sábado, 29 de novembro de 2008

Reencontro Inesperado

Olá amigos e amigas, espero que todos estejam bem e com saúde. Nessa tarde ensolarada de sábado, o último de Novembro, o verão incendeia as ruas e os corpos. Todos devem estar a essa hora na praia, tomando aquela cerveja gelada, pedindo um caldinho de sururu, comendo ostras (cuidado pra não estar estragada) e observando as beldades a passear. Mas eu não, sou um brasileiro que tem objetivos na vida, não me deixo levar por modismos nem pela perniciosidade. Enquanto vocês estão perdendo tempo aí, vivendo, eu estou aqui nesse meu quarto, dialogando com os mortos. Tem problema não, pelo menos o último morto com quem conversei foi um sujeito que veio me narrar uma história muito interessante que nem foi ele que escreveu, foi um conterrâneo dele. Esse conterrâneo já narra a história de outra pessoa. E vocês acham que esse telefone sem fio vai dar certo? Vou deixar que Walter Benjamin conte por mim:


"XI


A morte é a sanção de tudo que o narrador pode relatar. Ele derivou sua autoridade da morte. Em outras palavras: ela é a história natural a que suas histórias remetem. Isso foi exprimido de modo exemplar numa das mais belas histórias que temos do incomparável Johann Peter Hebel. Esta na Caixinha de Tesouros do Amigo Renano, chama-se Reencontro Inesperado e começa com o noivado de um jovem que trabalha nas minas de Falun.Na véspera do casamento a morte dos mineiros o surpreende no fundo de uma galeria. A noiva permanece fiel após a morte e vive tempo suficiente para um dia, já velhinha, reconhecer o noivo num cadáver retirado da galeria perdida, poupado à decomposição pela impregnação de vitríolo de ferro. Depois desse reencontro ela também é chamada pela morte. Quando Hebel, no curso da narrativa, se viu ante a necessidade de tornar manifesta a longa série de anos, ele o fez com as seguintes frases: 'Nesse interim, a cidade de Lisboa foi destruída por um terremoto, a Guerra dos Sete Anos terminou, o Imperador Francisco I morreu, a Ordem dos Jesuítas foi suprimida, a Polônia dividida, a Imperatriz Maria Tereza morreu, Struensee foi executado, a América tornou-se independente e as forças francesas e espanholas reunidas não conseguiram conquistar Gilbratar. Os turcos cercaram Stein na Cova dos Veteranos na Hungria. O imperador José também morreu. O rei Gustavo da Suécia conquistou a Finlândia russa, começou a Revolução Francesa e a longa guerra, e o imperador Leopoldo I também baixou ao túmulo. Napoleão conquistou a Prússia, os ingleses bombardearam Copenhague, os camponeses semearam e colheram. O moleiro moeu, os ferreiros martelaram, os mineiros buscaram veios de metal na sua oficina subterrânea. Mas quando os mineiros de Falun, no ano de 1809...' Nunca um narrador ancorou seu relato na história natural mais fundo do que Hebel o fez nesta cronologia. É só lê-la atentamente: a morte aparece em turnos tão regulares como o homem da foice nas procissões de meio-dia no relógio das catedrais."


Não sei o que vocês acham, mas para mim, lendo esse relato, parece que a História é um universo paralelo, onde os grandes fatos passam como nuvens sobre nós, cidadãos comuns. Quero saber o comentário de vocês. Vamos debater.

p.s.: foto de Hebel

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