segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Agradecimentos da Disssertação

Em primeiro lugar, agradeço este trabalho a minha mãe, Francisca Alvino de Lima Barreiro, que nunca se esquivou das dificuldades e agruras financeiras para nos proporcionar (para mim e minha irmã, Maria Ercília) uma educação de boa qualidade. Minha mãe é a pessoa mais presente e minha maior incentivadora. Também agradeço ao meu pai, Odomiro Barreiro Fonseca, homem sertanejo, o mais velho dos cinco filhos de José Barreiro, e por ter tido esta sina primogênita, teve que cuidar da roça e não pôde estudar mais do que até o ginásio. Mas, se orgulha de ter financiado os estudos dos irmãos mais novos com o suor de seu trabalho campesino. Meu pai é uma fonte inesgotável de sabedoria popular e das lendas que habitavam o cotidiano dos moradores do Vale do Piancó, no sertão paraibano. Também não posso deixar de citar meu avô materno, Emílio Martins de Lima, o meu “Ulisses”, que não pensava duas vezes em juntar uma família de quatorze filhos e lançar-se mundo afora em busca de dias melhores. Ele, que naquele “sertão brabo” sempre ouvia piadinhas do tipo: “Escola é pra filho de rico, homem!” E não havia maior riqueza do que aprender com os livros, onde a palavra era alimento imperecível.

Também quero agradecer a professora Christine Dabat do Departamento de História da UFPE, por ter acreditado em mim quando eu mesmo duvidava da possibilidade de engatar minha pesquisa. Com sua freqüente doçura e sinceridade, disse-me que não poderia ajudar-me, mas indicou um professor que talvez o pudesse. Numa tarde de quinta-feira, bati pela primeira vez à porta do professor Lourival Holanda. Porta sempre aberta, escancarada, porque seu espírito tem fome de comunhão, sua sabedoria é desapegada e com imensa facilidade transformava os mais hermético dos temas em suave poesia em sala de aula. Quando por longa e desconhecida estrada andamos, norteamo-nos pelos signos de segurança. O professor Lourival orienta por sua simples presença. E, entre nós, norte e oriente só nos podem levar à Rússia. Obrigado, Professor!

Também quero dedicar homenagem aos meus amigos, especialmente Rodrigo Acioly Peixoto e Daniel Oliveira Breda, com quem aprendi muito, fosse numa discussão séria ou numas de nossas jornadas carnavalescas. Também quero deixar registrada a importância de Mariana Azevedo, Danielle Camelo, Daniel Duarte, Antonioni “Spengler” Martins, Hugo José, Janaína Guimarães, Manuela Oliveira, Tiago e Hugo Perez, Bruno Vila Cruz, Ricardo Hermes, Manuel Souto Maior, Cristiano Randau, Tiago Peixoto, Alberto Rio, Karuna Sindhu, Henrique Viana Brandão, Yuri Holanda, Ursulla Machado, Mariana e Patrícia do Amaral, Marcela Vieira, Carlos “Cacau” Holanda, Michely Peres, Diogo Luna, Hannah Lima, Edson Alvino, Paulo Emilio Lima Cirilo, José Alvino, Emilio Melo... Ainda tantos merecem destaque, mas os que não citei hão de me perdoar e se espelharão certamente noutros que aqui foram citados. Uma ressalva a Juliana Pinheiro, a “culpada” de ter colocado Dostoiévski no meu caminho e aos colegas do mestrado.

Agradeço aos professores que me inspiraram desde a infância até a universidade. Não quero terminar esse trabalho sem lembrar do professor Michel Zaidan Filho, Antônio Paulo Rezende, Marcus Carvalho, José Maria, Anco Márcio Tenório, Ermelinda Ferreira, Saulo Neiva, Roland Walther e todos os outros da PG Letras, alguns dos quais não tive oportunidade de ter aulas e me aprofundar em seus conhecimentos. Com todo carinho, registro a importância da professora Larissa Shevchenko, minha professora de russo, por me aproximar a cada semana do universo da cultura russa. Também agradeço a professora Elena Vássina, pelo suporte, mesmo de longe, às minhas pesquisas e pelos convites para participar dos congressos. Agradeço aos órgãos fomentadores de bolsas para os estudantes, pelo suporte financeiro nessa difícil jornada.

Quero finalizar, agradecendo a um escritor que há 130 anos não está entre nós. Pode parecer estranho homenagear o objeto da pesquisa. Mas, se não fosse o amor que dedico à obra de Dostoiévski não sei se suportaria conviver oito, às vezes dez horas por dia, com sua densa escrita e sua presença de chumbo. O que mais me admira na personalidade do escritor é o seu sincero amor e entrega na execução de sua arte. Abandonou uma vida segura de engenheiro militar para criar um coral de vozes atormentadas, que em seu sofrimento e aflição, nos ensinam verdadeiras lições à respeito da vida. Obrigado, Mestre e mestres!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Próxima Estação: Esperança

Tolstói inaugura o romance Anna Karênina dizendo que as famílias felizes se parecem entre si, enquanto as infelizes, cada uma o é à sua maneira. Pois bem, as grandes cidades se parecem demais umas com as outras: muito trânsito, corre-corre e a distância contratual da coletividade. Desembarquei em Moscou às 2 da madrugada do dia 18 de fevereiro. Fazia menos 24 graus. As ruas escorregadias por causa do gelo eram o primeiro obstáculo, o frio incendeava o rosto. Cheguei na casa das gentis Anna Voronkova e Cecília Rosas e fui imensamente bem tratado. Parti para o centro, sempre escorregando nas calçadas até chegar na Biblioteca Lênin. Adivinhem quem estava à porta? Ele mesmo, totalmente por acaso, me deparei com a estátua, imensa, de Dostoiévski. Subi no montante de neve para me aproximar da estátua do Mestre e, simbolicamente, escorreguei. Embora nas conversas coloquiais os russos não afirmem dar tanta importância aos clássicos da literatura, eles estão em todo lugar, como estátuas, estações de metrô, avenidas e museus. A companhia das anfitriãs, acrescidas de Ilona Elufimova e Nikita Kuldiushev, tornaram o passeio agradabilíssimo, apesar dos quase menos 30 graus. Hoje eu entendo o porque do aspecto espectral, fantasmagórico, de São Petersburgo nas novelas de Gógol e Dostoiévski: o frio deixa as luzes dos carros, dos postes e das casas borradas. Parece que estamos dentro de um sonho...

Nesse momento em que escrevo sâo 03:42 da madrugada, estou no trem que cruza a província de Vladímir. A paisagem é monótona, neve e árvores delgadas com as copas brancas. O maquinista disse que está fazendo menos 35 graus. Estou viajando no mais barato compartimento do trem, no último vagão. Num pequeno espaço existe uma família de homens (avô, filho e dois netos de aproximadamente 9 e 11 anos). Além deles, uma senhora com olhar triste e que não puxou conversa em momento algum. Quando disse que era brasileiro, o filho de 32 anos, à moda russa, encheu um copo de vodca, pegou um pedaço de pão preto, uma linguiça de bode e um dente de alho, e me ofereceu. Não pude negar, era um tratado de amizade, além do mais vamos passar ainda 20 horas nesse cubículo, dividido em seis camas, três beliches. Minha cama fica na parte de cima de um beliche e só cabe minhas malas. Por isso escrevo, mesmo após três viagens de avião, um dia agitado e congelado em Moscou, não consigo dormir por cima das malas. O espaço é realmente pequeno, menor do qualquer cozinha no Brasil.

Para mim, apesar desse “infortúnio”, está sendo a melhor parte da viagem. Ninguém aqui fala inglês e todos querem falar comigo, me escutar com meu sotaque diferente, saber o que estou indo fazer no Tartaristão... O trem é antigo, com todo o jeitão soviético: tudo parece ter ao menos quarenta anos de utilização. Está muito frio, de verdade. No meu netbook são 21:56, ainda está no horário da terra natal. No Brasil, em Recife, meus amigos estão partindo para alguma curtição pré-carnavalesca. Mas, me sinto tão entusiasmado que não há comparação. Estou cercado de pessoas muito simples, num cubículo, mas eles fazem questão de dividir suas comidas, histórias e explicar que aquilo é típico de tal lugar e falam de suas vidas, assim como nós, brasileiros.

No final do trem tem a área de fumantes e lá não tem aquecimento, faz um frio de congelar e endurecer o corpo. As paredes de metal, absorvem o frio que está lá fora, de forma que este cubículo, o derradeiro espaço do trem, parece muito mais um frigorífico do que uma área de fumantes. O limite tolerável é fumar um cigarro e sair. Há uma pequena janela, toda coberta de gelo, com a mão e o isqueiro faço um buraco no gelo e consigo visualizar a estrada que fica para trás. A lua cheia e a neve branca formam um cenário límpido, encantador. No meio da madrugada, sozinho, frequentei este lugar inóspito e hostil e eis que foi o lugar que mais gostei. A todo tempo trens carregados de vagões cheios de minerais e gás passam na direção contrária, em direção à Moscou. Os comunistas criaram uma organização ferroviária que a Rússia atual dificilmente conseguiria igualar. Os brasileiros socialistas criticam a União Soviética, mas se vissem a estrutura organizacional das ferrovias e os destinos que conseguem dar à suas riquezas minerais, toda a organização do país é da época do exército vermelho. Aliás, a Rússia querendo ser ocidental é a parte mais chata desse processo de conhecimento. A música pop russa, aquela que toca nas rádios, shoppings e bares, é insuportável.

Vou abandonar esta escrita, minhas costas já estão doendo. Todos estão dormindo no trem, em seus cubículos entupidos de gente e malas. Estou escrevendo da entrada do banheiro, o penúltimo cubículo deste último vagão, o último vocês já sabem qual é. Fico a imaginar os soldados russos partindo para a guerra, na época não tinham aquecedor no trem, a velocidade do trem faz com que o frio seja ainda maior. A bateria do netbook também está no fim, tenho tantas coisas pra dizer da viagem de trem, mas vou deixar pra outra ocasião. Estar entre as pessoas simples me faz feliz aqui, apesar das adversidades. Consigo conversar com eles. Em três horas bebendo vodca, petiscando e conhecendo a família que vive comigo no cubículo, aprendi mais russo do que um ano inteiro no Brasil. O melhor é que estou entendendo suas conversas e me fazendo entender. Depois eu conto mais.

Do Zvedanye, Brazilya!