quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

2011, The Magic Year.

Todo fim de ano nos pegamos repetindo os mesmo rituais: uma análise do que se viveu e uma preparação para nossas aspirações de imortalidade. Nessa retrospectiva íntima, só posso agradecer ao que me aconteceu nesse ano que se finda. Consegui alcançar os objetivos profissionais que tracei, e tive, de bônus, algumas surpresas positivas.

Logicamente, nem todos os dias foram de segurança e felicidade, também não é isso o que almejo. Viver sem dor é não ter carne, e ainda não somos robôs. Perdi amigos em 2011, passei mais da metade do ano sem ter dinheiro para ir no cinema, tédio e enfado visitaram-me com frequência. Mas, o pulo do gato foi dado nesse ano que teima em avisar, ainda tenho dez dias.

No último reveillon, estava na casa da família Perez, dos meus amigos-irmãos, Tiago e Hugo, quando à virada do calendário, pus-me a atacar os sonhos. Diante do mar quente de Itamaracá, decidi que iria viajar e que iria tentar a seleção de algum doutorado nalguma universidade brasileira. Eu que há tantos anos sonhava nas páginas de Tolstói e Dostoiévski, um dia sentir o cheiro da terra russa, tocar sua neve, escutar suas vozes, mesmo que por ecos distantes. Decidi-me que iria viajar para a terra dos meus escritores favoritos, nem que para isso vendesse tudo o que eu tivesse, e passasse quinze dias no inverno de Moscou. Quis o destino estar ao meu lado. Encontrei uma ONG chamada AIESEC que me levou, não pra sonhada Moscou, mas para uma cidade desconhecida do Tartaristão, onde vivi dois meses e meio de uma lua de mel única. Ainda passei quinze dias a percorrer as outras cidades que mais desejava, entre elas, a mítica Novgorod e a desejada Petersburgo. A Rússia foi um capítulo de páginas infindáveis de um livro que, com fé no destino, será reeditado.

Deixei, a contragosto, a terra que me abraçara de maneira maternal. Em quase três meses, a Rússia tinha me dado duas oportunidades de emprego, amizades, uma paixão abrasadora, lembranças inesquecíveis. Mas, por um capricho burocrático, tinha que voltar a Recife, onde não teria emprego, nem motivação. Passei um mês de ressaca. Até que resolvi procurar uma professora em São Paulo que nunca me negava orientação nos estudos. Falei que tinha um projeto para trabalhar o niilismo na obra de Dostoiévski. Meio sem acreditar, tentei a seleção do doutorado da USP, justamente no departamento que mais sonhava, o de Língua e Cultura Russa. Após quase dois meses de ansiedade, o resultado me foi positivo. Agora aguardo o momento da nova mudança.

Também foi o ano de vestir a camisa do tempo. Os trinta anos me caíram nos ombros, com aquela necessidade de solidez, montada no impetuoso fulgor dos vinte anos. Cada dia que passa, gosto mais de ficar em casa, com meus livros e minhas ríspidas inquietudes. O desejo de estabilidade ronda o cotidiano.

Pelos dois objetivos alcançados, e narrados anteriormente, o ano já teria sido magnífico. Mas, a vida nos reserva outras surpresas: a convivência com meus velhos pais e os pequerrotos sobrinhos, a boa defesa da dissertação do mestrado, a subida do Náutico de divisão, a presença afável de quem se aproximam nas asas metálicas de um avião... 2011 me cochicha, na surdina, que Deus fez o mundo em sete dias, por que não viver os próximos dez?

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O Bom Momento do Futebol Russo


Nos últimos dias, estive a pensar em criar um blogue que falasse somente sobre o futebol russo. Pra quem acompanha este pequeno terreno virtual sabe que todos os caminhos conduzem às estepes russas. Aproveitando o bom momento vivido pelos clubes russos e por sua seleção nacional, pensei: "Por que não criar um blogue?" Um pequeno projeto para janeiro, se o destino aprouver. Mas, vamos ao que interessa! O que me motivou mesmo a escrever sobre o futebol russo foi a passagem dos seus quatro times às fases decisivas das competições europeias. Pela Liga dos Campeões, CSKA e Zenit (ambos ex-campeões da antiga Copa da UEFA na década de 2000) se classificaram para as oitavas de final da Champions. Pela Liga Europa (antiga Copa da UEFA, os tártaros do Rubin e os moscovitas do Lokomotiv, também garantiram ingresso nas fases decisivas.

Certa vez, um torcedor do Arsenal, ao protestar contra a compra de parte do patrimônio do clube pelos empresários norte-americanos reclamou com uma frase que simboliza a era super profissional do esporte bretão: "Antigamente, era futebol e um pouco de dinheiro. Hoje é dinheiro e um pouco de futebol." Sábias palavras do torcedor inglês. Ainda na década de 1980, clubes podiam despontar no cenário mundial, com os brios de atletas regionais e fazerem a fama épica de sua labuta futebolística. O escocês Aberdeen foi campeão da Recopa em 1983 com um time formado por jogadores escoceses da região, liderados por Sir Alex Ferguson, batendo o todo poderoso Real Madrid. O Nottingam Forest foi campeão da Liga dos Campeões em 1979 da mesma forma. E outros exemplos existem da época do futebol romântico. Hoje, sem o apoio financeiro, fica difícil ter um campeonato nacional forte e equipes se destacando em competições continentais. O futebol russo entrou de cabeça na era dos mega-negócios esportivos. Os principais patrocinadores dos times russos são empresas de extração de petróleo e gás: Lukoil, Gazprom, Bashneft, além de outras multinacionais.

O Campeonato Russo está parado, devido às nevascas do período e só deve retornar no final de março, começo de abril. Quem lidera o campeonato é o forte time do Zenit, aquele que menos oscila. O Zenit dispõe de vários jogadores internacionais (os portugueses Dani e Bruno Alves, o sérvio Lazovic e o belga Lombaerts, são alguns exemplos), mas também tem vários jogadores russos de qualidade, destacando-se o centroavante de área, Bukhárov, atual centroavante da seleção russa, com todos os méritos, pois tem jogado melhor que a pseudo-estrela do Tottenham, Pavliuchenko. O Zenit também conta com o caldeirão do Estádio Kirov, localizado às margens do Golfo da Finlândia, em São Petersburgo. A equipe é treinada pelo italiano Luciano Spaletti.

Outro time russo muito forte e que está em segundo lugar no campeonato russo é o CSKA. Confesso que o time que mais simpatizo, além do Rubin. O CSKA é um time muito bem arrumado taticamente pelo treinador Leonid Slutsky. A base do time é toda russa, começando pelo goleiro titular da seleção, Akinfeev. A zaga conta com o titularíssimo da seleção,, Ignashevich, e os irmãos Vitali e Alexei Berezutsky. No meio de campo, a experiência de Aldonin, além das promessas Mamaev e Dzagoev, ambos vistos como o futuro meio-de-campo da seleção. No ataque, o excelente marfinense Doumbia e o nosso conhecido Vágner Love. O CSKA, clube que desde a década de 1930 já recebia jogadores negros em seus elencos, parece ter uma torcida mais tolerante num mundo que ainda sofre com preconceitos raciais ridículos.

O terceiro clube que analisamos é o Lokomotiv, detentor da terceira maior torcida de Moscou, um time irregular, embora tenha um excelente elenco, onde se destacam, no ataque, o experiente Sychev, ídolo maior do clube, o excelente equatoriano Caicedo, além do meia esquerdo Torbinsky, da seleção nacional. O Loko carece de uma boa sequência de vitórias pra merecer brigar pelo título desta temporada.

O quarto clube que analisamos é o Rubin Kazan, campeão russo em 2009, faz uma campanha regular este ano, embora também possua um brilhante elenco, onde se destacam o turco Karadeniz, o equtoriano Noboa, o atacante paraguaio Valdés e o africano Martins (ex-Inter de Milão). A grande decepção do time kazanense fica por conta do brasileiro Carlos Eduardo, ex-Grêmio, contratado junto ao Hoffenhein da Alemanha por nada menos que 20 milhões de euros e que quando não está machucado, não merece a titularidade. O Rubin está apenas em quinto no Campeonato Russo.

Os quatro times acima analisados são os que conseguiram vagas nas próximas fases das competições européias. Deles, o CSKA tem a missão mais difícil: enfrentará o Real Madrid. Mas, creio que uma boa partida no Estádio Luzhniki, pode dar chances aos krasnyi-sinyi moscovitas na partida de volta na capital espanhola. O Zenit enfrentará o Benfica, numa batalha, ao meu ver, sem favoritos. E como o Zenit é o mais estável dos times russos, confio que possa brigar ferrenhamente pela vaga nas quartas. Pela Liga Europa, o Rubin Kazan vai enfrentar o Olimpiacos da Grécia. Missão difícil, mas também não antevejo favoritos. Já o Lokomotiv enfrentará os bascos do Athletic Bilbao, uma equipe sempre difícil de ser batida, mas como disse anteriormente, o maior problema do Lokomotiv é a instibalidade, joga partidas boas e ruins de uma semana para a outra.

Deixo para uma outra postagem, as análises dos outros times russos, como o Spartak Moscou, clube de maior torcida do país, além do Dinamo Moscou, e da nova estrelas do business esportivo, o daguestano Anzhi Makhachkala. Quem sabe eu crio o blogue e posso falar, inclusive, da segunda divisão russa, donde tive a oportunidade de assistir dois jogos na casa do Kamaz, em Naberezhnye Chelny. Desejo boa sorte aos times russos, com especial ênfase ao CSKA e o Rubin, embora reconheça que a missão do rubro-azul de Moscou seja dificílima.