quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Assunto da Semana

A semana começou conturbada no maior país da América do Sul, tudo porque a mais famosa apresentadora infantil expôs uma parte dos seus problemas pessoais para a imprensa. Bem, não me cabe estabelecer juízo de valor, pois tenho uma péssima relação com o presente. As mudanças são tantas que, cada dia menos, sei jogar este reality show. Portanto, me eximo de comentar sobre o caso, ao menos neste primeiro parágrafo. Mas, muita gente andou comentando por aí. Eu não vi a famosa entrevista, mas imaginem só - sei de tudo! – Isto porque todo mundo deu a sua opinião: 

Primeiro, os gaiatos. Ah, esses fizeram fotomontagens com a apresentadora na entrevista e no seu mais famoso filme, Amor, Estranho Amor; criaram frases moralistas do tipo: “Ah, reclama de abuso infantil e fez um filme pornô com um menino de doze anos!” - Acusaram os revoltosos. E mais, tantos outros escreveram justificativas pautadas no comportamento da juventude dos anos 2000, com dados sociológicos, inclusive! O argumento era, grosso modo, assim: muitas crianças que faziam as coreografias sensuais que Xuxa ensinava no fim dos anos 80 foram molestadas pelos mais velhos por despertarem uma primaveril sensualidade. Isto, veja bem, explicaria a liberação sexual mais agressiva após a segunda metade da década de 1990. Houve até quem citasse o famoso livro de Vladímir Nabokov, Lolita

E por falar nos sociólogos, esses paladinos da verdade coetânea, eles também opinaram. Estes nossos amigos imprescindíveis, são os carimbadores oficiais da justiça, os delimitadores da fronteira do legal. Eu mesmo, na ausência do entendimento do presente, sigo-os sempre. Sinto até vontade de ir pras suas ocupações, marchas e protestos. E sinto vergonha quando não participo. Pois bem, estes vanguardistas das ciências humanas alertaram para a importância de se discutir o caso: a pedofilia no Brasil precisa ser combatida. Um problema antigo, que remete ao machismo impetrado em nossa sociedade colonial, cujas origens se encontram no século XIX. 

E por falar no século-pai da contemporaneidade, como não lembrar dos historiadores! Pois bem, eles também dissertaram sobre o desabafo da Rainha dos baixinhos. Li relatos que buscaram as origens do interesse sensual pela juventude. Um amigo historiador comentou sobre o acontecimento que envolve o baile de 15 anos de uma garota. E vejam, seus argumentos foram tão convincentes que se não fosse por um niilismo covarde, eu até me abraçaria à sua preleção. Ele dizia que, historicamente, as moças após a primeira menstruação já começavam a ser cortejadas pelos marmanjos, sendo assim, a festa de 15 anos, tão tradicional entre mocinhas da minha geração, por exemplo, seria uma maneira de o pai apresentar a filha à sociedade: “Vejam, minha beldade está à disposição dos homens de boa corte.” Que argumento imperioso! Pautado numa tradição de décadas, quiçá séculos! É, mas houve quem questionasse a maturidade da donzela... 

E os psicólogos também encheram as redes sociais de argumentos muito seguros de que o cérebro humano ainda está em formação e que precisava ultrapassar as etapas necessárias para uma boa auto condução moral, além do tempo necessário para a transição entre a infância e vida adulta, de maneira que toda moléstia a adolescentes, se encerra em crime a ser repudiado pela justiça. 

Os jornalistas escreveram sobre questões técnicas: houve quem lembrasse que as paredes do cenário e o piano ao fundo da análise pública eram muito apelativos. Outros, filiados à imprensa marrom (acho que os oceanos midiáticos possuem essa cor hemorroidal), traçaram mil especulações e ganharam assunto para semanas, garantindo assim, a informação para o ávido público consumidor. 

Parece que todos possuem uma opinião sobre o caso e, ficaria até feio para mim não opinar também, já que o pobre leitor perdeu seu tempo até o último parágrafo. Escrevo de dentro do metrô, ao meu lado, duas senhoras gordas conversam sobre o depoimento da apresentadora ao programa dominical, acharam um absurdo aquela super exposição. Imaginem, o metrô está parcialmente em greve, anda tão devagar, devido à operação tartaruga, que deu até tempo de escrever essas linhas. A voz mecânica advertiu: “Estação Terminal Butantã, solicitamos que desembarquem do trem nesta estação.” Bem, na próxima postagem, eu dou minha opinião sobre o valioso caso.