terça-feira, 30 de junho de 2009

Além do Horizonte

Não é da música de Roberto e Erasmo Carlos que quero falar, mas da busca humana pelo eldourado, pelo paraíso perdido. Aliás, a própria música dos referidos cantores já alimenta essa idéia, quando diz: "Além do horizonte deve ter um lugar bonito pra viver em paz...". Toda nossa necessidade de prospecção e construção, provém de uma vontade de melhorar, modificar o que está, constantemente, imperfeito. A inquietação humana transformou a fragilidade natural em volúpia de dominação. Hoje, estive ouvindo a trilha sonora do filme de Ridley Scott, 1492 - A Conquista do Paraíso pelo grego Vangelis e, imediatamente comecei a imaginar o quão fastidiosa foi a empreitada das navegações oceânicas. Aos grandes heróis como Bartolomeu Dias e Vasco da Gama, o louro e o vigor da glória: Lusíadas! Mas, aos que se aventuraram e fracassaram no alto mar, o esquecimento foi a retribuição. Uma cena vislumbrou-se aos meus olhos.

Em meio ao oceano, após longos dias de viagem, entre calmarias e sobressaltos, os marinheiros de uma nau desconhecida, se encontram envoltos numa tempestade. As nuvens desceram ao encontro dos homens, queriam saber o que audaciosos personagens haviam de fazer em cenário inóspito. Ventos aterrorizantes importunam a embarcação. Ondas epopéicas não perdoariam os infaustos guerreiros do mar. Sibilam os últimos ventos de uma agressiva existência. A nau descança em seu repouso submarino. Ainda um último marinheiro, se agarra a uma reminiscência flutuante, e bóia agarrado à madeira salvadora. A tormenta se desfaz. O guerreiro mercante contempla, do alto de seu desespero, a mansidão do mar. Distante milhares de quilômetros da sorte de um Robinson Crusoé, abandonado pelos deuses e sem a insígnia de Ulisses, agoniza lentamente por sobre uma das mais fantásticas forças da natureza: o reino de Netuno. Então, o homem se dá conta de sua posição perante a natureza e se deixa convalescer.

Esses dias, estive lendo O Maravilhoso Mágico de Oz de Frank Baum e a fascinante personagem Dorothy, a solitária menina do Kansas, chamou-me a atenção em sua persistência em querer voltar pra casa. Enquanto vivia com os tios, desejava o colorido das brincadeiras e a interação da mágica da infância, impossível de se realizar naquele ambiente cinzento. Mas, ao se ver perpetrada no reino de Oz, tudo o que mais deseja é voltar ao aconchego da paz familiar. Assim também somos nós, inquietos interpretadores do mundo. Constantemente enuviados pela decifração do viver, da prática de coexistir.

O homem em território adverso não passa de uma frágil presa da natureza. Mas, ao clamor da necessidade, o homem encontrou um ambiente onde pudesse ser senhor de si, governador de sua vontade, operário do destino, cosmus triunfantis. Esse lugar é a cidade moderna. Onde o homem não haveria de disputar força com outras bestas, mas em favor da razão, justificaria sua supremacia sobre os demais, inclusive sobre a natureza. Não me apraz conhecer as garras do urso, a visão do falcão, os dentes do crocodilo. Na grande cidade só há espaço para o que é racional e até nossas disputas são justificadas pelo viés da iluminação. Filho da luz elétrica!

Sábio é o homem que não se deixa envolver pelos disfarces do mundo. Como diria Luiz Costa Lima, é o capaz de bem nomear os denominadores comuns. Em seu tempo, o filósofo platônico, Sócrates, reconhecia a realidade pelo pressuposto da semelhança. Outros filósofos, modernos, reconheciam pela diferença. Mas, todos esses reconhecimentos, meus amigos, levaram-nos a algum porto seguro? Calma, não estou reduzindo a filosofia à prática. Ou seja, se a realidade é tosca, devemos abandonar as grandes idéias. Não. Mas, nesse habitat humano que é a cidade, cativeiro de ilusões, é totalmente improvável arvorarmos praticar algo que nos seja capaz de tornarmos mais solidários. Esse é um espaço de disputas, onde o antigo navegador não compete com as titânicas forças da natureza, mas com o suposto irmão em luz.

Ah, meus amigos, como gostaria de ter a certeza que em algum lugar desse mundo fosse possível viver verdadeiramente em paz! Para lá me mudaria. Pensei em fazer concurso para alguma cidade do interior, vislumbrando uma pequena propriedade, longe das competições urbanas. Porque o homem, após compreender, ou tentar compreender, a existência conjunta, tende a querer voltar a uma suposta Era do Ouro, um destino romântico, longe das novidades. Assim, Dorothy desejou voltar ao Kansas, o marinheiro abandonado pelos deuses desejara o sossego do lar ou algum destino menos obtuso. Ivan Karamazov confessa ao seu irmão Alexei que toda vez que vê uma criança morrer de fome, em nome da racionalidade humana, sente vontade de devolver o bilhete premiado que nos conduziu a este universo. A maldição de quem quer interpretar o mundo é a subtração solitária ou a elevação pedante. Dizia Albert Einstein que é miraculoso que o mundo se revele compreensível. É maravilhoso como podemos atribuir sentido a uma coisa tão fluida como a vida, dar unidade a algo que nos escapa, e essa visão também serve ao nosso olhar para o passado, ainda mais indomável.


2 comentários:

Luciana Cavalcanti disse...

Fantástico texto, dodô...

Anônimo disse...

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