quinta-feira, 11 de junho de 2009

Um Davaneio Sem Humanos

Não sou Martin Luther King, mas eu tive um sonho. Um sonhar acordado. Dir-se-ia um delírio, mais exatamente. Uma profecia a respeito do futuro da humanidade. Peço aos deuses que me iluminem nessa difícil jornada que promete ser a narração dessa imagem do futuro. Como será o mundo daqui há cem mil anos? Quem contemplaria o apocalipse dessa efêmera natureza chamada homem?

Do alto de sua onipotência, Deus, o todo-poderoso, acostumado a observar o vagaroso polvilhar das montanhas, o vai-e-vem dos oceanos, as transformações de florestas equatoriais em desertos infinitos, analisa com ar de reprovação as desmoronantes criações de suas criaturas. Agora, o planeta, num fim de tarde sem calendário, rui: os prédios de uma civilização imponente erguem para os céus suas lascas de ferro oxidado à pedir perdão por se ostentarem imperiosas algum dia. As casas do interior foram engolidas pela terra, o mar submergeu cidades litorâneas, rios foram sorvidos para aliviar a azia da fúria magmática, magnânima. Teria o homem migrado para algum outro lugar? Escapado de seu cativeiro terrestre?


Ao criar o homem, Deus também o castigou. Concedeu-lhe poucos anos de vida, pouca inteligência, natureza demais. De épocas em épocas, Deus recriaria o homem, assim como se pode comprovar em fenômenos inexplicáveis ao redor do mundo como os vestígios totêmicos na remota Ilha de Páscoa. São resquícios de uma outra era. O que restará da nossa para a que vingará nos próximos milhões de anos? O homem adâmico, outrora, evoluído e harmonioso, conquistador do universo, fôra castigado a recomeçar, primitivamente, sua jornada. Voltaria a ser macaco, um racional e, pela necessidade de transceder, não estaria mais no planeta: voltaria ao seu estado adâmico ou se extinguiria. O homem seria, então, um sonho de Deus. Uma tentativa, falha, de materializar uma aspiração divina.

Após malfadadas tentativas de harmonizar sua condição, sua relação com o planeta, o homem desaparecera da Terra. Neste fim de tarde silencioso, com albatrozes a circundear o litoral, a luz do sol avermelhada reproduzindo espectros de diferentes tonalidades entre as nuvens triunfantes, a natureza em sua perfeita simbiose parece não sentir falta do homem. Mas, eu, antes do fim, repouso instruso no porvir e contemplo uma imagem do que talvez não seja.

Música para acompanhar a leitura: http://www.4shared.com/file/111202628/76e240fb/02_Konzert_Fr_Violin_Oboe_Streich.html

Um comentário:

Anônimo disse...

"o homem é o sonho de uma sombra"