quinta-feira, 11 de junho de 2009

Uma Homenagem ao Prof. Michel Zaidan

Quarta-feira, véspera de feriado, bar do bigode. Nestas circunstâncias insalubres, eu e meu amigo arqueólogo, Manoel, caímos, entre tantos assuntos à recordar, nas lembranças das aulas do Prof. Michel Zaidan. Foi interessante termos opinado, concomitantes, que as melhores aulas da graduação em História na UFPE foram ministradas pelo professor homenageado nesse humilde blog. Entre cantos de sereia, ruínas da história e a era da dessacralização da obra de arte: Andy Warhol é um horror! (aquela risada irônica e quase sempre solitária), Zaidan parecia ser o professor mais interessado em passar um conhecimento básico para os alunos, pois enquanto todos ávidos aguardavam os textos dos pós estruturalistas, ele cantava pela boca de Homero. Quando todos queriam a afirmação da sociedade pós moderna, ele vinha com a critica da modernidade, tendo os frankfurtianos como base discursiva. Mas, a figura do prof. Zaidan era motivo de controvérsias pelos corredores cfchianos. Todavia, quase sempre essas intrigas eram mais políticas do que teóricas, o que não me arvoram a necessidade de contar-los, até porque nunca me interessei.

Uma decisão importante que resolvi tomar na faculdade surgiu durante uma das aulas que Zaidan ministrava numa cadeira eletiva, dia de sábado. Não me recordo o nome oficial da disciplina, mas era fundamentada nas teorias de Jürgen Habermas, Walter Benjamin e Michel Foucault. Aliás, isso virou um funk cantado pelas Barbis de Olinda (de minha autoria, só pra constar). Num de seus discursos militantes, Zaidan sugeriu que só estudássemos aquilo que nos trouxesse uma satisfação, um prazer no aprendizado, onde a dedicação não fosse um estorvo. Numa dessas aulas, olhei pra mim mesmo e percebi que queria estudar sobre a Rússia de Dostoievski. Saí batendo de porta em porta até cair no dep. de Letras, mas isso é outra história.

A imagem de Zaidan sempre foi muito associada à sua aula sobre o XII Canto da Odisséia de Homero. Lembro-me de sair extasiado após ter lido o Silêncio das Sereias, texto de Kafka. Essa imagem do silêncio das sereias sempre foi-me atormentadora, porque parece trazer à luz uma antiga discussão: como passar pela vida sem ouvir o chamado da arte inquietadora? E quando essa arte se silencia para o homem? Não se quer mais fugir ao destino, mas ir de encontro a ele, mas os deuses negam ao homem a possibilidade de conhecer, de traduzir sua linguagem inacessível.

Zaidan, ciência política é política mesmo? Ou seja, dedução, predição, não tem encaixe não? Thomas Hobbes, Maquiavel, Max Weber, Adorno, Horkheimer e Walter Benjamim... Por onde andará Walter Benjamin?
Beija minha boca, beija minha boca, amor.


Ironia
Sarcasmo
Ateísmo
Niilismo
Hedonismo
Só a razão salva. Cativa ou não.
Deus meu!
Ah, perdição!

Frase articulada entre a risada espasmosa: Portugal é a vanguarda da Europa!
Aliteração


Nessa rápida postagem quero deixar minha homenagem ao Prof. Zaidan, de quem fui aluno por duas ocasiões e tornar público meu respeito, apesar de meio debochado, ao grande professor que nos estimulava a pensar, que conduzia nossas mentes através daquela voz mansa, seu visual grisalho, a careca com a estrela de Gorbatchev. Quero ser breve, pois é difícil falar dos vivos sem que tenhamos autorização, posso ser multado por desacato, mas prometo Sr. Professor, que nessa postagem não falarei de Ariano Suassuna nem de Gilberto Freire, nem dos desafetos cfchianos.

2 comentários:

Sr. Anísio disse...

Dôdo, caríssimo, que bonito isso, paguei essa cadeira contigo - de longe a melhor do curso. E só pra registrar mais textos belos: mal estar da civilização do tio Sig. tambéjm rolou nessa cadeira, Eros contra a Civilização de Marcuse, e fora Foucault, Benjamim até o último e Habermas, Hamermas que eu quero entrar!!!!!
Homenagem mais que merecida véi!!!

André Raboni disse...

Dodô,

Penso contigo. As aulas de Zaidan foram as mais instigantes pra meus direcionamentos de pensamento, também.

Apresentei um seminário sobre "O Drama Barroco Alemão", de Benjamin, na cadeira de Teoria 1. Bicho, confesso que depois de ler e reler umas 6 vezes o capítulo que me concernia, pouco entendi daquilo tudo.

Mas ainda assim, foi uma aventura grandiosa fazer a representação das alegorias ao lado de Dimas, Luis Carlos e Jonas. Assim como foi massa tocar um improviso louco ao violão, enquanto Luis tocava seu Celo, Jonas batia no pandeiro, desesperado fitando nossos olhos como que pergunta: "Deus, como entro nesse desritmo!?" Isso tudo em sala de aula, ao passo que Dimas recitava um de seus poemas malucos sobre "a história à contrapelo", com um vaso de barro nas mãos, e, ao final dos versos, atirava com toda força o vaso no chão, aos pés do mestre...

O susto da sala foi grande, e do mestre também, mas alguns compreenderam um pouco do que trata os cacos da história, incorporados naqueles pedaços de vaso espalhados pelo chão da sala...

Aew!