quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Bolsa Estupro


Olá amigos visitantes do meu humilde blog. Entre tantas carreiras e correrias, achei tempo para trocar uma conversinha com vocês. Meu amigo Cacau, famoso professor de História pelas redondezas do nobre bairro de Roda de Fogo, costumava dizer que ninguém é tão vazio e inútil que não consiga arranjar meia hora de conversa interessante com um par. Espero que meu alforje de idéias demore um pouco mais a se esvaziar. E se isso estiver prestes a acontecer, ainda bem que existe o nosso bizarro cotidiano, cheio de lorotas a qual não nego uma palavra pra comentar.


Essa madrugada cheguei de viagem (ainda estou fatigado), estive numa reunião de negócios na cidade de Leeds, Inglaterra. A preocupação entre os investidores da região é perceptível ao caminhar pelas ruas do subúrbio, onde encontramos respeitáveis residências sendo oferecidas a preços módicos. Até me interessei por uma propriedade perto de Hosforth, muito singular, que num passado longíquo pertenceu ao Duque de Aberford. Entretanto, nesse exato momento, não poderei dar conta de administrar três propriedades na velha ilha céltica, visto que já estou muito ocupado com minha fazenda de ovelhas em Aberdeenshire (Escócia) e com meu balneário em Abersoch (País de Gales).


Enquanto viajava de trem de Manchester para Leeds, aliás aqui vai uma reclamação: será que a crise mundial está prejudicando os serviços da primeira classe? Péssimo serviço! Nunca fui tão mal atendido na terra da rainha. Como dizia, enquanto viajava, andei folheando o The Guardian e uma notícia me espantou deveras. Não que fosse um caso que nunca tivesse escutado, longe disso, para nós brasileiros nenhuma notícia de violência se constitui em novidade. A matéria versava sobre um caso de estupro, em que uma jovem senhora teria direito a receber do Estado uma compensação financeira pelo abuso que sofrera. Essa quantia circula na faixa das 11 mil libras esterlinas, algo em torno de 34 mil reais, hoje (amanhã poderá ser 33 ou 35, quem sabe!?). O problema é que a côrte inglesa lançou um porém às pobres vítimas de tal abuso, que desde já classifico como odioso. Se a jovem que sofreu abuso estivesse em estado de embriaguez, 25% da quantia seria confiscada! O "sindicato das mulheres", desculpem-me não posso confirmar o nome correto pois estava com a cabeça irritada com o serviço de bordo ferroviário, entrou na justiça contra esse parênteses da lei, pois a situação não será menos dolorosa ou constrangedora a mulher estando ébria, ou não.


Quando lia a matéria, pensava em meu venturoso país natal, e na possibilidade de aplicação de tal lei em nosso território, onde casos de violência sexual contra as mulheres são de proporções maiores que no Reino Unido, devido à impunidade. Seria muito justo para a mulher que sofresse tamanha violência, receber uma recompensa do Estado, para que pudesse se reestabelecer do trauma, pagar um tratamento psicológico, se reestabelecer em casa sem precisar ir ao trabalho e enfrentar as opiniões constrangedoras, quiçá fazer uma viagem para buscar um novo sentido para a vida. Ao meu ver, toda contribuição seria justa e ainda assim, pequena.


Mas, ao pensar na situação do nosso "país do futuro", comecei a imaginar se tal lei fosse instalada por aqui. Meus amigos e amigas, sei que pode parecer que estou galhofando de situação tão penosa, mas é-me impossível não conjecturar sobre isso, espero que as feministas entendam. Além do mais, não tenho pretensão profética, portanto só estou a matutar. Antes de dedicar-me a minha profissão atual de consultoria financeira de multinacionais, trabalhei como assistente social na manguetown, portanto minha dívida com a carestia cristã já está quitada. Naquela atividade pude chegar a várias conclusões da situação deprimente em que muitas famílias se encontram. Mulheres engravidam todo ano na ilusão de se sustentarem com uma pequena mesada do governo federal, chamada Bolsa-Família. Meus queridos leitores, se para ganhar menos de 150 reais por mês, as pobres mulheres de nossas palafitas despejam crianças em nossas putrefacientes ruas, o que não fariam se o governo lançasse o "bolsa estupro" pagando 34 mil reais por cada caso?


Repito que não estou zombetando de situação tão desesperadora, até porque como disse anteriormente, sou a favor de todo auxílio que essas pobres vítimas possam receber. Aliás, dinheiro nenhum pode pagar um trauma desse tipo. Mas, não posso me ausentar de narrar o pensamento que me assaltou no exato momento que lia essa matéria na fria cabina do trem, com a possibilidade de tal projeto social no Brasil. Então, comecei a imaginar todo tipo de falcatrua que poderia surgir. Iria gerar um novo serviço no Brasil: o estuprador profissional. Este, receberia metade do dinheiro para realizar o projeto e dividiria a bolada com a moça que sofreria o atentado. Ambos ficariam com 17 mil reais, o estuprador desapareceria. Como tudo o que acontece no Brasil fica sem investigação, o "trabalhador" seria esquecido e fazendo esse árduo labor duas vezes por ano, já garantiria um salário muito mais digno do que qualquer professor contratado pelo Estado.


Minhas queridas visitantes, não atirem pedras em mim antes do último parágrafo! Relatei este possível caso não para zombar deste atentado, mas para mostrar como nós, brasileiros, somos as maiores vítimas de nossa esperteza. O nosso maior defeito é não sermos inteligentes e sim espertos. E nisso, gostaria de terminar esse polêmico artigo lembrando o antigo rei da Macedônia, Pyrrhus, que dizia que a tolice em nada cede à perspicácia, nem dela difere em coisa alguma. Abraço a todos e não me interpretem como insensível, por mais que o possa parecer. Abaixo, a matéria em que a BBC trata do caso, gostaria de achar a do Guardian, mas estava com tanta raiva do atendimento que amassei o jornal e joguei no lixo.

link: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/08/080812_estuprovitima_np.shtml

direitos humanos: http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4336&Itemid=1

5 comentários:

Mariana Azevedo disse...

Adoro seus posts Dodô, mas nesse caso, algumas ressalvas:
1)Acho que receber uma compensação financeira por ter sofrido um estupro não é o melhor caminho. Correto seria se as mulheres pudessem contar com uma série de serviços públicos e equipamentos sociais que pudessem amenizar as nefastas consequeências que um ato como esse pode ter sem suas vidas. Exemplo: serviços e profissioanis de saúde, (incluindo abortamento legal, serviço social, justiça preparadaos para atenter casos como esse, que não façam chacota ou culpem a mulher pelo acontecido.
É muito mais fácil para o Estado dar uma compensação financeira e dizer: Te vira! (e ainda dizem que neo-liberalismo é bobagem!) p/ a mulher do que arcar com todos esses serviços.

2)Essa história das mulheres inglesas terem um desconto em sua idenização por estarem bêbadas é um comleto absurdo que nem vou me alongar em comentar.

3)Bem, se as mulheres brasileiras
(e naturalizar que brasiliero(a) SÃO assim p/ mim já é um problema)vão programar estupros para receberem essa idenização o caso aí já é de prostituição (que ainda bem não é mais crime no Brasil) onde o cliente vai ser o Estado brasileiro. No mínimo irônico não?

4)Realemente não acredito que as mulheres - generalizando sim - se submeteriam a tal ato por esta recompensa.

5)Bolsa estupro Brasil: Esse Post me lembrou um projeto de lei brasileiro que concederia uma bolsa para a mulher que engravidasse em consequencia de um estupro e não abortasse (nesse caso o aborto é legal no Brasil) e como isso faz parte de um projeto conservador que quer manter as mulheres que fazem abortos criminalizadas e morrendo fazendo abortos clandestinos.
São os mesmos "que defendem e pena capital e vêem tanta alma num feto e nenhuma no marginal" como diria Caetano.

Visualizador disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dodô Fonseca disse...

oi Mari, valeu pela contribuição. Concordo contigo, até por quê te conheço e sei que és uma grande cientista social e que sabe analisar essa situação melhor que eu. Escrevi esse post não pra zombar das mulheres, como disse tantas vezes no post, mas pra ironizar a nossa (brasileira) situação de miséria, em que tomamos atitudes estapafúrdias para escaparmos da fome... quis expôr uma situação, apenas ironizando. acho q vc entendeu. quem tomar tudo ao pé da letra poderá ficar chateado (a), mas ainda bem que a linguagem oferece outros recursos de entendimento. mímesis de produção. hahhahahaa. beijo e valeu pela visita.

Anônimo disse...

Quanto a questão da mulher bebada ter desconto fiquei em duvida se nao seria justo.

Pelo menos conheço causos de beberronas que vixiii
lembra da consciencia so na ressaca.

Dodô Fonseca disse...

só pra constar, não fui quem apagou o comentário do dia 11 de dezembro de 2008, às 11:37, e sim a pessoa que escreveu.