sábado, 1 de agosto de 2009

O Velho da Montanha: Como Implantou o Paraíso e os Assassinos

Milice é um lugar outrora habitado pelo Velho da Montanha. Contarei a história conforme Messer Marco a ouviu.
O Velho é chamado na língua deles Aloodyn. Entre duas montanhas, ele mandara construir o maior e o mais belo jardim do mundo, no qual plantou todos os tipos de frutas, ergueu os mais belos palácios, todos pintados a ouro, e criou animais e aves. Abriu canais pelos quais corriam água, mel e vinho. Reuniu moças e rapazes, os mais belos do mundo e os que melhor sabiam cantar e dançar. O Velho fazia-lhes acreditar que aquele lugar era o Paraíso. Ele imaginou esse jardim, porque Maomé dissera que se alguém fosse para o Paraíso desfrutaria à vontade das mais belas mulheres e lá encontraria leite, mel e vinho. Assim o Velho pôs em prática a idéia de Maomé.
Os sarracenos da região acreditavam que lá realmente era o Paraíso. Mas naquele jardim só entrava quem o Velho conseguisse tornar assassino.
O castelo da entrada era tão bem fortificado que o Velho não receava nenhum ataque. A corte era formada por rapazinhos de doze anos, raptados e que prometiam tornar-se homens valentes. O Velho introduzia-os aos magotes de quatro, doze e até vinte de uma só vez, sob a ação de ópio, que os deixava inconscientes durante três dias. Ao acordarem, os meninos, vendo-se naqueles maravilhosos jardins, julgavam-se no Paraíso, pois se viam cercados por belas jovens que cantavam e dançavam, oferecendo-lhes as melhores coisas. Ninguém queria mais sair de lá. Dessa maneira, o Velho sustentava sua corte bela e faustosa.
Quando precisava mandar um daqueles rapazes para um lugar fora dos jardins, dava-lhe uma beberagem de ópio e, depois de adormecido, colocava-o do lado de fora. Ao acordar, vendo-se em lugar tão diferente daquele ao qual se acostumara, o rapaz se entristecia. Procurava, então, o Velho, que julgava ser um grande profeta, ajoelhando-se a seus pés. O Velho então perguntava: "De onde vens?". A resposta era: "Do Paraíso". E contava-lhe como era e como desejava voltar.
Assim, quando o Velho queria vingar-se de alguém, escolhia o mais vigoroso dos rapazes, colocava-o fora dos jardins, e quando o mocinho ia procurá-lo, suplicando-lhe que o fizesse voltar ao Paraíso, ele prometia-lhe o regresso somente depois de o jovem ter assassinado quem ele apontava. Os rapazes obedeciam-lhe de boa vontade, para conseguirem voltar ao Paraíso. Se conseguissem escapar depois de terem cometido o crime, voltavam a dar satisfação ao Velho. Se fossem presos, resignavam-se a morrer, certos de entrar novamente no Paraíso.
Desse modo, o Velho da Montanha eliminava todos os que lhe estorvassem os passos. Muitos reis, conhecendo o poder desse Velho, temiam-no e tornavam-se seus tributários.
Mas, no ano de 1277, Alau, senhor dos tártaros do oriente, que conhecia todas essas atrocidades, decidiu acabar com aquele abuso. Mandou que seus barões cercassem o jardim, mas só depois de três anos de cerco é que o Paraíso capitulou pela fome. O Velho foi preso e morto com todos os seus sequazes. Desde então não houve mais Velho algum inventor do Paraíso.

Um comentário:

Dodô Fonseca disse...

Essa é uma das fantásticas histórias do viajante veneziano Marco Polo, localizadas no compêndio de suas andanças em Il Milione.