terça-feira, 3 de março de 2009

O Jeito é Virar Crente

A justiça desportiva está prestes a promulgar um novo ato de proibição nos estádios de futebol. Desde o ano passado já é proibida a venda de bebidas alcóolicas dentro das praças esportivas e, agora, será feito teste com bafômetro na entrada dos torcedores nos estádios. Anunciaram que a tolerância será um pouco maior do que a que se encontra em vigor nas medidas de trânsito, porém, se o torcedor, no dia de domingo, ultrapassar (vamos supor...) quatro latinhas de cerveja, será barrado de assistir a partida, mesmo que já esteja com o ingresso na mão. Será que essa é a verdadeira solução para acabar com a violência entre as torcidas nos dias de jogos de futebol?




Ao meu ver, o grande problema da justiça brasileira é que ela bate e depois assopra, onde o policial é o banana e o delegado é o mamão, pois o primeiro prende e o segundo, solta. Todos os clássicos em Pernambuco são cercados de cenas de violência antes dos jogos e, principalmente, depois. A polícia através do Batalhão de Choque faz um trabalho que eu, como torcedor frequentador de estádio, considero muito bom: escoltando a torcida visitante, previnindo aglomerações de torcidas organizadas e vigiando os terminais de integração. Ao final desses jogos vemos aquela clássica foto no jornal, onde encontramos setenta, cem, cento e cinquenta torcedores presos, em sua imensa maioria usando camisas das três maiores torcidas organizadas da capital: Fanáutico, Torcida Jovem do Sport e Inferno Coral. O problema é que no cerne dessas torcidas organizadas, os próprios vândalos já sabem que se forem presos pelo Choque, o máximo que poderá acontecer é se ausentar de assistir a partida e levar umas duas pauladas na perna. O que para quem sai de casa pra fazer arruaça já é uma circunstância natural. O Brasil tenta enfrentar o problema da violência no futebol, adotando o sistema europeu de segurança, mas vejamos, estamos anos-luz de distância em relação ao trabalho realizado na Inglaterra, por exemplo. Os Hooligangs causaram problemas no futebol britânico entre as décadas de 1960 e 1990, devido à impunidade da justiça. À partir do momento em que os agressores foram parar atrás das grades, o futebol se tornou um ambiente familiar, onde hoje, nem alambrados são usados para separar a torcida do gramado.




A justiça no Brasil pra maquiar a incompetência no julgamento dos casos e na aplicação das penas socio-educativas, tenta criar soluções impopulares e grotescas para coibir a baderna instalada no esporte mais popular do mundo. Eu frequento estádios de futebol desde os 14 anos e nunca me envolvi em briga, talvez um bate-boca, mas nunca às vias de fato, pois me esforço pra ser uma pessoa pacata, embora nem sempre seja fácil. Quando o time do meu coração, o Náutico, joga contra os arquirivais, Sport e Santa Cruz, quase sempre gosto de reunir meus amigos aqui em casa, a gente come um tira-gosto, bebe uma cervejinha ou whiskey e faz aquela "resenha" antes da partida, até para relaxar os nervos. Não duvidem, meus amigos, o futebol deixa as pessoas nervosas, sim. Parafraseando Nélson Rodrigues, dentre as coisas menos importantes da vida, o futebol é a mais importante. E perder uma final de campeonato para um rival é de entristecer e adoecer os mais fanáticos. A cerveja faz parte do ritual do futebol. Sei que muitos dirão que ela poderá acirrar os sentimentos durante a partida, mas só criticará esse hábito, aquele que nunca ficou fritando ao sol numa arquibancada e tendo na companhia da louríssima sua única refrescância.




A lei seca em relação ao trânsito é louvável, embora eu ache que a tolerância zero seja um exagero, em outros países, o nível de álcool é mais flexível. Porém, trazer essa lei para o estádio de futebol é um tiro no pé, é um atestado de incompetência para punir os verdadeiros culpados pela selvageria nos estádios, que em sua maioria são adolescentes que contam com a absolvição da lei e a impunidade geral depois que são pegos em flagrantes. Dia desses foi levantada a possibilidade de proibir o futebol para menores de 18 anos. Meu Deus, por que não proibimos a felicidade? Paremos de vender depiladores! Deixemos as mulheres com pernas de caranguejo e viremos crentes, cordeiros da safadeza geral. Como sempre digo, não quero ser o dono da verdade, mas esse é o lugar onde posso expôr minhas idéias livremente (assim acredito) e espero engrossar o côro dos descontentes com tantas proibições. Mexeu no álcool do povo, é revolução certa. Isso me faz lembrar um causo interessante: era ano de 1865 (não tenho certeza da data, podia ter sido 1855) e Karl Marx vivendo em situação de extrema pobreza no subúrbio de Londres raramente saia de casa para conviver com a urbe. Um belo dia, ao sair à rua deu de cara com uma multidão de mais de cem mil pessoas na rua, reclamando contra o governo. O velho poeta da utopia achara que os ingleses tinham se convertido ao socialismo e que a Revolução estaria em fase de ação. Marx se entusiasmara como há muitos anos não o fazia ao ver a multidão inflamada. Mas, a desilusão logo tomou conta do seu espírito quando descobrira que toda aquela multidão tinha saído à rua para reclamar do parlamento o veto do mesmo à bebida alcóolica. Na segunda-feira, a bebida voltou a ser vendida normalmente e todos se aquietaram. Marx desolado, escreveu esse fato em seu diário. Durante o século XVIII a maior fonte de renda do governo russo foi a nacionalização da venda de álcool, onde o governo vendia vodka para os traktires repassar ao povo. Se tirar o remédio do povo, o bicho pega, ou cerveja ou a bíblia, o rio precisa correr pro mar. Saudações etílicas!

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