terça-feira, 17 de março de 2009

Gente Pobre

"Nós, os pobres, somos desconfiados... Assim o decretou a Natureza. Já o havia observado e sentido, anteriormente. O pobre é suscetível; encara o mundo de outra maneira, olha a cada transeunte de soslaio, com receio, e colhe no ar a menor palavra... Estarão falando dêle? Será que comentam em voz baixa seu deplorável aspecto? Indagarão, acaso, o que ele faz agora? Quem sabe perguntarão também como é que se arranja, como sai da entaladela? Todos nós sabemos, Várinka, que um homem pobre é pior que um trapo e que, digam o que disserem, não pode merecer a consideração de ninguém. Por mais que escrevam esses literatozinhos por aí, um pobre será sempre um pobre, com todas as suas consequências. E por que há de ser eternamente assim? Apenas porque, em um homem pobre, tudo, por assim dizer, deve estar com o lado avesso para fora; ele nada pode guardar no íntimo, orgulho, por exemplo, nem outro sentimento análogo, pois ninguém o tolera."
Makár Alekseievitch Dievutchkin, personagem de Gente Pobre de Dostoievski.

Nenhum comentário: