terça-feira, 28 de setembro de 2010

Eleição e Democracia

No próximo domingo ocorrerá a grande festa da democracia, motivo pelo qual nossos governos se inflam e se assanham em discursos calorosos na defesa dos ideais da maioria, pelo bem estar social e pelo direito dos cidadãos desfavorecidos. Realmente, parece que nos meses que antecedem as eleições democráticas, uma onda cristã de igualdade e amor toma conta dos nossos espirituosos políticos. Eles concedem espaço para os mais humildes dos seres humanos se pronunciarem, abraçam crianças doentes em hospitais, velhos leprosos e beijam a face putrefata da miséria com o mais ardoroso carinho.

Assim como os pastores em suas igrejas comerciais, os políticos também se agarram a um deus salvador, o deus da democracia. Mas, que tipo de vantagem pode encontrar um ser que por essência é vaidoso e egoísta em dividir os direitos do poder com a população em geral? Não por acaso, o maior desafio de Cristo na Terra foi pregar a igualdade entre os seres, sabendo que nós somos os mais sovinas e invejosos dos seres vivos. Sua missão até hoje é um mistério, visto o número de pessoas que se apossam de suas palavras para aumentar a gordura de vaidade social. Os políticos não amam os pobres e a democracia laica simplesmente por uma nova interpretação da doutrina cristã, mas porque o povo, em sua imensa maioria, é uma massa ignorante e carente, tornando-se assim, isca fácil para as promessas e as ilusões vendidas. O povo atende com fulgor aos chamados de carreatas, passeatas e caminhadas pelas ruas dos bairros pobres ou do centro. Não porque acreditem na palavra salvadora do político, mas porque sentem um inefável prazer em estar próximo, caminhando lado-a-lado ao poderoso homem que todos os dias ocupa um espaço importante no horário nobre de suas vidas. Até que chegue o dia da eleição, o político seja eleito, e a promessa se torne, apenas, promessa.

O que vemos na política brasileira, a tão badalada Maior Democracia do Mundo, é uma única ideologia: do poder. Não se sabe o que é esquerda, nem direita, imagina-se que quem bota uma bandeira vermelha seja da esquerda, uma bandeira azul, da direita. Mas, os personagens que compõe esse quadro estão constantemente trocando de camisa. A única ideologia é a da vitória nas urnas e do desvio das verbas. Eu não quero participar desse espetáculo, embora seja obrigado a me deslocar da minha tranqüila residência, atravessar a rua entre milhares de pessoas desconhecidas e repugnantes, com falsos sorrisos nos lábios a pedir o voto para aquele candidato legal, com sorriso maquiado no santinho, colando no seu corpo durante a caminhada e mesmo você dizendo que já tem candidato ou que não vai votar em ninguém, muitos desses militantes insolentes ainda se sentem no direito de colar um adesivo no teu carro ou na tua camisa. Como os odeio!

Esse maldito voto obrigatório. Fico imaginando aquele cidadão exemplar, um jurisconsulto. Todos os meses entra no site da Câmara para verificar se seu bom candidato compareceu às sessões, se respondeu às suas expectativas, se votou aquilo que prometeu. Ao final de quase quatro anos, estabelece um rigoroso compêndio de anotações e decide que vai renovar seu voto naquele honesto deputado que honrou com o prometido na campanha anterior e é digno da sua confiança. Esse cidadão honesto, cumpridor dos seus deveres, conhecedor dos rigores da lei, respeitador da moral social, terá seu voto igualado com aquela senhora gorda e peituda que aprendeu a contar e a ler o número e o nome do candidato numa escolinha improvisada pelo parlamentar na semana anterior, onde a urna eletrônica fazia a vez de caderno e livro. Ganhou sete camisas com a foto e o número do candidato, para ela, o marido bêbado e desempregado e para cinco dos nove filhos que cria em seu barraco. No dia da eleição, arroxa contra o corpo adiposo aquela camisa e vai pedir voto, incomodar-me com seu palavreado escasso, sujar a rua com os santinhos arremessados contra os carros, gritar e fazer algazarra nas ruas. Os dois votos tem o mesmo peso. E acreditem, para muita gente entendida essa é a grande vitória da democracia.

Democracia esta que teve início com os gregos, mas que para aquele povo tão sábio não representava o direito para toda e qualquer pessoa, mas para aqueles que fossem capazes e provassem que tinham condições de escolher. Em São Paulo, acredita-se que o palhaço Tiririca será o deputado mais votado com quase 1 milhão de votos e levará consigo mais 5 deputados do escroto partido que o lança. Eu torço muito pra que isso aconteça! Que o inferno se instale! O palhaço Tiririca é o mais honesto dos candidatos: não sabe o que vai fazer, tampouco tem projeto, mas quer ser deputado para empregar seus parentes pobres que migraram do Ceará para “SumPalo”. Vejo as pessoas desesperadas fazendo campanha contra o palhaço, mas foram vocês que abriram a brecha pra ele e agora estão pedindo arrego. Não duvido que na próxima eleição saia candidato à presidência da República das Bananas.

Domingo é dia de darmos viva à democracia, dos amigos comunistas encontrarem o povo nas ruas, pois estes só sabem quem é o povo através dos livros ultrapassados e utópicos do velho marxismo. Será o dia de elegermos os palhaços de máscara e os travestidos de homens sérios. Sairei de casa para participar dessa festa porque sou obrigado, infelizmente, e sou um sujeito pobre que não pode se dar ao luxo de estar em desconformidade com a lei. Votarei nulo, pois é a única coisa que posso fazer por mim, já que pelos outros tem muita gente esperta querendo fazer.

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