domingo, 9 de maio de 2010

A Copa do Mundo 2010


Desde que comecei a acompanhar as Copas do Mundo em 1990, na Itália, não perco a oportunidade de observar, de quatro em quatro anos, os embates entre as seleções de diversos continentes numa "guerra mundial" pela supremacia no futebol. O mundo todo está presente, 32 seleções de todos os continentes e apenas uma voltará pra casa com a taça pra oferecer ao seu povo. Porém, muito além da objetividade da conquista, no perpassar das copas, fica na lembrança o esforço de alguns escretes que se superaram, ultrapassaram os limites técnicos e deixaram para História das Copas, o exemplo de bom futebol, de organização e vontade.

Lembro-me na Copa de 1990 da seleção da Irlanda, pela primeira vez disputando o torneio, e conseguiu chegar, na base da vontade, às quartas-de-final, perdendo para a anfitriã Itália num suadíssimo 1x0. Aquele time que contava com jogadores que ainda hoje me lembro bem, como o goleiro Pat Bonner (ídolo do Celtic da Escócia) e os atacantes grandalhões Toni Cascarino (de origem italiana
e destaque do Liverpool) e John Aldridge. Em 1994, duas seleções encantaram os amantes do futebol: a Romênia de Gheorghe Hagi e a Bulgária de Hristo Stoichkov. Duas seleções do leste europeu, que jogavam pra frente, não temiam os poderosos de seus grupos: a Romênia eliminou a badalada Argentina de Batistuta e a Bulgária dispachou a Alemanha de Klinsmann. Ainda hoje, um dos gols mais lindos que já vi na vida, foi marcado pelo romeno Hagi contra a Colômbia, nesta Copa. Ele recebe a bola na lateral esquerda e manda um chutaço em direção ao gol. O pobre goleiro colombiano percebe a bola se aproximando e não consegue decidir-se se sai pra cortar o cruzamento ou se fica embaixo das traves pra defender o chute. Em sua indecisão observa a bola caindo vertiginosamente nas suas costas e morrendo no ângulo. A curva que a bola faz é de difícil explicação até para um físico experiente, creio eu. Em 1998, a Nigéria também chamava a atenção para o surpreendente futebol africano que, na realidade, desde 1990 com os Camarões liderados por Roger Mila, já mostravam que tinham potencial para evoluir, como de fato hoje, não são mais surpresas pra ninguém. Mas, a grande maravilha da Copa 1998, foi a estreante Croácia. Eu me lembro das discussões que tinha com meu primo Edson, também amante do futebol, e eu dizia que a Croácia ia ser a surpresa daquela Copa, e acertei em cheio. A seleção formada por craques habilidosíssimos como Prosinecki, Suker, Vlaovic, Boban, Asanovic... passeou pelos gramados franceses e só não chegou na final com o Brasil, por causa de dois gols bambos do lateral direito francês, Thuram, que era destro e fez dois dols de fora da área com o pé esquerdo.

Essas seleções-surpresa são o que de mais bonito existe numa Copa do Mundo, esse torneio que consagra o espetáculo do bom futebol. Quantas seleções não chegaram super-favoritas e viram os prognósticos se dissolverem. Nessa Copa de 2010, o Brasil é o grande favorito, sim. E Dunga tem conseguido afastar as vaidades do time. Acredito que nosso escrete canarinho vá longe na disputa. O problema é que a Copa do Mundo tem o poder de evocar um poder sobrenatural que transforma times que estão desacreditados em heróis. As duas Copas que vi o Brasil ganhar, 1994 e 2002, a seleção deixou o território nacional sendo vaiada e esculachada pela população e imprensa, e voltaram com a taça. A Argentina viaja para a África do Sul sob esse clima de desconfiança. Maradona levando porrada de todos os lados. Mas ele, um herói nacional, sabe como poucos evocar essa força oculta que existe dentro das quatro linhas. Por isso, não descarto a Argentina como favorita. A Holanda e a Espanha também merecem ficar entre as favoritas. Especialmente, a Holanda! Essa seleção teve o melhor aproveitamento das eliminatórias européias e vem com um meio de campo de fazer inveja, com Van Bommel, Robben, Sneijder e Van Persie, tendo Kuyt no ataque. Se encaixarem bem, chegarão longe. Minha aposta para a surpresa do Copa vai ficar com uma seleção do leste europeu e outra africana. Vou dar-me o direito de dar dois chutes: primeiro, a seleção da Sérvia. O estilo de futebol dos Balcãs é muito parecido com o brasileiro: velocidade, dribles e muito ataque. A outra seleção é a Argélia. Esse time não tem nenhum craque que se destaque, exceto talvez o meia Ziani. Mas, os argelinos, se entrarem comendo a grama que nem fizeram contra os poderosos egípcios, vão chegar, quem sabe, até as quartas. Aliás, o Egipto vai fazer falta nessa Copa. Eles tem o melhor time das últimas décadas, mas foram eliminados pelos argelinos.

Palpites dados, resumo da seguinte forma. Para o título, qualifico Brasil, Argentina ou Holanda. Para surpresa do Copa, reservo o título para a Sérvia e a Argélia. Para as decepções da Copa, as eternas "furonas", Espanha e Inglaterra. Ah, deixo de sobreaviso, belos jogos farão as seleções da Dinamarca e da Nigéria, mas não sei se chegarão muito longe. É isso, falar de futebol é sempre gostoso. Para mim, é um prazer. Em junho, dividirei meu tempo entre a dissertação e os jogos. Gosto de assistir todos os jogos, se possível. Acho bonito ver partidas entre povos de etnias diferentes, lutando por algo que mobiliza suas nações, mas que não traz em seu bojo, a tragédia da guerra ou da morte. São homens disputando através do esporte. Todo o globo de olho numa pequena bola. O macro e o micro. Uma partida entre México e Japão, Dinamarca e Gana, Argélia e Paraguai... pode nos revelar a riqueza de vivermos num mundo de tamanhas diferenças étnicas, mas de possível convivência. Até junho, meus amigos. E viva o futebol!

gol de Hagi: http://www.youtube.com/watch?v=1GzGOm4Ohcg (narração em romeno)

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