sábado, 23 de outubro de 2010

O Câncer do Futebol Brasileiro


No último domingo, a maioria dos pernambucanos comemorou avidamente o acesso do Salgueiro, clube do sertão pernambucano, da cidade homônima de menos de 60 mil pessoas, para a série B do futebol nacional. Sem dúvida, um feito espetacular. E essa é a grande magia do futebol. No ano de 1983, o escocês Aberdeen bateu o poderoso Real Madrid na final da Recopa européia na cidade de Gotemburgo, com um escrete formado exclusivamente de jogadores locais, capitaneados pelo então desconhecido treinador Alex Ferguson. E muitos outros exemplos poderemos encontrar de clubes pequenos que alcançaram sua glória no mundo futebolístico. Mas, a vitória do Salgueiro sobre o Paysandu traz consigo um fantasma que há longa data assusta alguns grandes clubes do Brasil, especialmente do Norte e Nordeste, o sucateamento do futebol.

O futebol brasileiro é um produto de incalculável valor, poderíamos afirmar. O mundo inteiro se rende aos nossos dribles, aos nossos craques, aos nossos títulos em todas as modalidades. Porém, esse nosso produto não é bem vendido para um mundo sedento de consumi-lo. Para se ter uma idéia, o campeonato turco arrecada mais do que o brasileiro com direitos de transmissão. Os turcos vendem seus jogos para a Alemanha, Rússia e países árabes. Arrecadam uma boa bolada e podem manter os bons jogadores, além de contratar craques brasileiros para incrementar o nível futebolístico. Até o campeonato mexicano arrecada mais que o brasileiro! Na última Copa, exceto dois ou três jogadores, todos os jogadores da seleção mexicana atuavam dentro do seu próprio país. Mas, o Brasil, pentacampeão mundial, que possui clubes tradicionais e com imensas torcidas apaixonadas, não consegue vender seu campeonato para a Europa, nem para o Japão, muito menos para os países árabes, nem latinos. Vendemos apenas para a Globo. Consumo interno.

Será que ninguém se interessa pelo futebol brasileiro? Será que o campeonato turco é mais interessante que o nosso?! Para mim, é um problema de administração do alto escalão do futebol brasileiro. Lá em cima do Castelo de Kafka, onde ninguém consegue chegar nem saber o que acontece nas altas torres, os poderosos estão satisfeito com o “pouco” que recebem. Talvez porque se os americanos vierem a comprar esse produto, queiram colocar auditorias sobre a distribuição do dinheiro, ou então, se os ingleses comprarem, trarão os repórteres da BBC para fazer matérias de espionagem dentro de suas secretíssimas salas. Então, é melhor ficar com o consumo nacional, afinal de contas, a gente já é acostumado com as travessuras dos mandatários mesmo! E assim, o futebol brasileiro fica nesse descaso, as torcidas se acostumaram ao baixo nível dos espetáculos, jogador bom, só acima dos 30 anos ou com menos de 19. Mais de mil jogadores profissionais estão atuando fora do Brasil porque não conseguimos manter nossos craques. Para mim, só há duas possíveis respostas: ou o Clube dos 13 não sabe vender um produto que já faz a propaganda por si só, ou não quer se ver na companhia ingrata da imprensa internacional, a pesquisar suas contas.

No Brasil, o futebol é dividido: a CBF cuida da seleção, e o Clube dos 13 cuida do campeonato nacional. A CBF quase não tem trabalho, apenas engorda, pois vende todos os amistosos da seleção para uma empresa que põe o Brasil jogando lá pela Europa mesmo. Já o Clube dos 13, esse pinta e borda dentro do território nacional: divide as cotas de televisionamento do jeito que quer; marca jogos que terminam de madrugada; faz campanha com árbitros para que medalhões do seu elenco não sejam rebaixados e por aí vai. Quem está dentro desse quadro, conta com um mínimo de estabilidade, pois recebe um dinheirinho certo por ano. Quem está fora... Ah, quem está fora está comendo o pão que o diabo amassou! O Clube dos 13 divide as cotas de dinheiro do jeito que quer, entre eles, nas suas reuniões que acontecem pelas bandas do sul e sudeste, nas sedes de seus grandes clubes. E lá, definem: fulano vai ganhar X milhões, beltrano vai ganhar só Y. Fora do eixo sul-sudeste, apenas 4 clubes fazem parte do seleto e importante cenário do Clube dos 13: o Goiás, único clube do centro-oeste; o Sport, o Bahia e o Vitória, no nordeste. O Goiás, mesmo recebendo uma quantia pequena, mas perene, está sempre satisfeito. De vez em quando é rebaixado, mas logo sobe de novo para a Série A. Pode manter uma folha salarial de 800 mil reais, pagando em dia, mesmo que a torcida não compareça ou que nenhum patrocinador se interesse em aparecer junto à sua marca. Seus adversários goianos, coitados. Não possuem do mesmo privilégio. Eles precisam da torcida em massa, dos patrocinadores fortes e até da sorte, para competir com o afortunado adversário. E assim, o Goiás está sempre satisfeito e o Clube dos 13 se defende das críticas de ser “sulista”, dizendo: “olhe lá, temos representante no centro-oeste e no nordeste!”

O Paysandu vai ficar outro ano na terceira divisão. Acho que fui o único pernambucano que estava torcendo pelo Papão da Curuzu no último domingo. Eu que já estive em Belém e pude comprovar de perto, o amor que os paraenses alimentam pelos seus pobres clubes, esquecidos pelos poderosos do Clube dos 13. O Clube do Remo vai passar mais um ano na quarta divisão! E o Santa Cruz? Colocou mais de 50 mil pessoas num jogo contra o Guarany de Sobral e foi eliminado. Os times de torcida que jogam a série C e D, terão muita dificuldade em voltar para as séries A e B, porque eles possuem a ansiedade de seus torcedores, da imprensa, pouco dinheiro, patrimônio material caindo aos pedaços. Enquanto seus adversários: Guaratinguetá, Grêmio Barueri, São Caetano... são clubes de empresários, sem pressão, franco atiradores.

O dinheiro do Clube dos 13 fica preso nas torres do alto castelo. Enquanto isso, estamos a observar o desaparecimento gradual, lento, agonizante, do futebol norte-nordestino. É isso o que o Clube dos 13 quer: os paraibanos, potiguares, amazonenses, matogrossenses... torcendo pelos times do eixo Rio-São Paulo, além dos mineiros e gaúchos. O futebol para esses quatro estados apenas. E assim, o futebol brasileiro que poderia ser altamente rentável, ter cinco, seis divisões fortes, bancadas pela venda do campeonato para os países de todo o mundo, fica a mercê de uma esmola dada pela Globo, dividida por um pequeno grupo de clubes e o resto... o resto que se exploda!

2 comentários:

HVB disse...

É isso mesmo, Odomirinho...
É triste mas é verdade!
mas isso é reflexo de uma obtusa mentalidade nacional.
A ganância e a mediocridade impera tanto nas massas como entre os "grandes" cartolas; será que superaremos isso um dia?

Taep1801 disse...

Bem feito, quem manda torce pela seleção da CBF? fica ai, penta, hexa, hepta, octa e foda-se o nordeste.