quinta-feira, 22 de abril de 2010

Opinião Pernambuco

Hoje recebi por e-mail a triste notícia que o programa Opinião Pernambuco que ia ao ar pela TV Pernambuco às 20h saiu do ar. Desconheço as causas da extinção do programa. É difícil julgar as coisas tendo como certeza apenas o fato concreto do ocaso. Mas, para não perder o ensejo, pronunciar-me-ei contra a triste notícia da morte do Opinião Pernambuco. Um programa que falava de humanidades, artes e cultura no horário nobre, valendo-se da participação de vários professores das universidades locais, alunos e pesquisadores que faziam o canal direto com a população através do meio de comunicação mais popular que existe. O Opinião era capitaneado pelas hábeis mãos do jornalista e crítico literário Cristiano Ramos. Talvez, os mandas-chuvas achassem que o IBOPE estivesse baixo demais pra concorrer com o Jornal Nacional ou o Show da Fé. Ou ainda, o conteúdo dos debates fosse inacessível para o grosso da população. Não sei o que realmente aconteceu e fica o pedido de um esclarecimento. Como telespetador, gostaria de saber o por quê. Enquanto a resposta oficial não chega, formulo outra pergunta: Por que um programa como o Opinião Pernambuco não se mantém num Estado "tão rico culturalmente" como Pernambuco?

Enojam-me as pessoas que levantam a bandeira desse Estado pobre, semi-analfabeto, orgulhoso de um período colonial que se sustentava de trabalho escravo (veja a quantidade de prédios de classe média cujos nomes usam a palavra "colonial". Vende-se, e muito!) e se auto-intitula, ridiculamente, de Nova Roma de altos coqueiros. Nova Roma... temos pretensões de abarcarmos os estados vizinhos novamente? E me dói ouvir as entrevistas de gente que se diz orgulhosa de ser pernambucana. E quais as razões? O maracatu? A multiculturalidade? Porque nós torcemos pelos nossos torpes times de futebol em detrimento dos fortes times do eixo Rio-São Paulo?! Nessa província, as elites gostam de ostentar, parecer-ser o que de fato não são. Somos uma Nova Roma, sim, de bárbaros, que invadem em hordas, com panos cobrindo o rosto e armas em punho, o império da classe média assustada. A auto-reflexão dói. Saber-se uma doença, uma chaga, um corpo que apodrece, a consciência da fraqueza, não é pra qualquer um. Para qualquer um, é dada a alieNação, o carnaval multicultural, a novela e o pastor. Um programa que levava pensadores e instigava o telespectador à leitura, ao debate e à libertação através do conhecimento, não poderia continuar em Pernambuco.

Isso é um desabafo de alguém que se sente cada dia mais acuado nesse manguezal. Caranguejo, definitivamente, não anda pra frente.

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