quarta-feira, 2 de março de 2011

12 dias

Após doze dias na Rússia, hoje pela manhã, tive a gratificante surpresa de me deparar com uma neve fininha, quase como uma garoa de algodão. As ruas cobertas de um veludo branco vislumbraram-se mais bonitas. Vinícius de Morais e Toquinho no ouvido e não havia habitante mais feliz naquela cidade tão óbvia. Escrevo de um shopping. Nunca frequentei tanto esse espaço na vida, como aqui na Rússia. É difícil ficar mais do que 30 minutos caminhando na rua. Os primeiros dez minutos são agradáveis, mas a constância do frio maltrata a pele.Acordei cedo pra ir na rodoviária comprar minha passagem para a antiga cidade de Kazan, capital do Tartaristão. Kazan é um cidade de longa história e tradição. Todos dizem que é uma cidade muito bonita, diferente da cidade em que vivo, Naberezhnye Chelny.

Naberezhnye Chelny é uma cidade projetada na era soviética. É uma imensa COHAB. No período soviético chamava-se Brezhnev. A cidade é dividida em complexos, todos com quatro, cinco ou seis prédios, todos iguais. Apesar de não ser uma cidade grande, tem quase 600 mil pessoas, mas eu me sinto mais perdido aqui do que em São Paulo ou Rio de Janeiro, por exemplo. As ruas são todas iguais e os prédios também. A única construção que se destaca na paisagem é a torre de negócios chamada Tubiteika, que para minha imensa sorte, fica do lado do apartamento onde moro, então sempre me posiciono pela torre. Como a cidade não oferece atrações turísticas, devido à obviedade de sua existência, quando as pessoas me encontram na rua, me transformo num estrangeiro numa cidade de interior. Desta constatação, resultam duas possibilidades: ou as pessoas são muito amáveis, ou são chatas e mal-educadas. Na grande maioria das vezes, as pessoas são extremamente gentis e bem educadas, apenas um bêbado ficou gargalhando comigo quando me escutou pedir uma água mineral num barzinho perto de casa. Sua risada era provocadora e ele queria confusão. Mas, cá entre nós, a última coisa que quero num país distante é parar na polícia por causa de briga, coisa que nunca aconteceu nem no Brasil. Deixei passar. Para se ter uma idéia da excentricidade que minha estadia aqui representa, anteontem, concedi uma entrevista para a TV local! Eles queriam saber o que um brasileiro estava fazendo em Chelny, porque escolheram aquela cidade que nenhum estrangeiro escolhe. Contei um pouco da minha vida pra eles.

Tenho muita vontade de ficar aqui na Rússia, mas não em Chelny. Vou terminar meu estágio de dois meses e já estou correndo atrás de algum emprego em algum lugar. Gosto do frio, gosto do inverno, das pessoas. Meu russo melhora a cada dia, progressivamente. Tinha medo de não me adaptar ao clima, mas já me sinto triste pelo ocaso próximo do inverno. É muito gostoso andar aquecido no frio, as noites de sono são pacíficas e sem pesadelos. A maior dificuldade é andar. No meu segundo dia eu levei quatro quedas na rua. Há 8 dias eu não caio porque aprendi que em certos trechos não se deve andar, mas patinar. Se quiser andar com dureza, certamente vai cair. O caminhar tem que ser leve e escorregadio. As coisas aqui são mais baratas que no Brasil, mas só aqui em Chelny. Em Moscou, tudo foi muito caro, desde a compra de um chapka (chapéu típico de inverno) até os lanchinhos numa cafeteria. Às vezes, bate uma tristeza, mas é normal. Não é tristeza de saudade, ainda, mas é uma solidão de algo inexplicável, talvez a falta de alguém que aqueça o coração. Não sei. Paro por aqui, esse foi meu 12º dia, é bom escrever em português porque até quando sonho tem sido em língua estrangeira, só falo inglês e russo, o tempo todo. Sem mais, um abraço a todos e vamos trocando notícias.

Do Zvedanya, druz’ya!

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