segunda-feira, 25 de maio de 2009

O Galho Morto

Vou começar uma postagem sobre não sei bem o quê. Estou munido de pensamentos desarticulados que clamam por algum sentido e, talvez, nesse espaço de palavras minhas, possam desacorrentarem-se da solidão da minha convivência. Mas, as amarras do meu ego talvez não permitam que esse pássaro lance vôos por sobre distantes vales de entendimento. No silêncio da madrugada, essa quando não chove, tenho tido encontros memoráveis com forças superiores que se apresentam ao chamado da palavra correta. Assim, mefistofélico, na solidão do meu quarto, tendo como companhia algumas teias de aranha, paredes riscadas, manchas de chuva pelo chão, tenho encontrado a buscada harmonia nos, nem sempre, silenciosos diálogos com os textos. Mas, o que faz irromper do âmago do ser, a necessidade de escrever? Que tal angustia, que sei que não é só minha, faz irromper dos recônditos da essência a vontade de gritar ao mundo que algo está em desacordo entre o eu universal e a sonhada comunidade? Podemos nos alimentar de nossa solidão?

Nos últimos dias, a solidão tem sido a companheira mais respeitável com quem tenho convivido, porque nela posso organizar meus planos, dialogar com os mortos. O homem solitário se assemelha ao bruxo, pois enquanto todos dormem seu sono operário, a janela do solitário emite uma luz escondida por entre os feixes da madeira. Pensará o sonâmbulo sobre aquela luz: o que danado aquele cidadão faz acordado às três da manhã? Deve planejar alguma coisa proibida, concatenar idéias extraordinárias. É, certamente, um ser estranho. Assim, como diz Octavio Paz na Dialética da Solidão, o solitário é um perigo para a nação, para a sociedade. É um galho morto que precisa ser retirado, pois pensa, no sentido de pesar, também, toda a estrutura.

Distanciar-se do cotidiano, do trivial, é uma necessidade para quem quer entender a sociedade ou simplesmente se afastar dessa. Não proponho uma ruptura total, pois sei que é impossível viver sem buscar o outro, o comparativo quando não há comunhão. Há um dia na semana em que o corpo irrompe contra toda a razão construída e persegue algum espírito assemelhável. Mas todo o ato é falho e quando muito arranha ainda mais a carne viva. Afastar-se é uma maneira de compreender o que está em desacordo, distanciado o foco dos problemas, abrange-se. Assim, Zaratustra se afastou dos homens, Jesus Cristo tem um hiato entre os 12 e os 30 anos, o Buda mergulhou no silêncio para compreender o mundo. Dizia o poeta alemão Goethe: "O que não entendes, também não possuis." Assim, a própria condição humana estará em xeque se não houver uma explicação plausível para levantar pela manhã.

Comecei sem saber o que dizer e talvez não tenha dito nada. Apenas quero deixar o pensamento voar, distante, vagarosamente, ao sabor das correntes adornianas. Assim, o solitário caminha pelo quarto, em seu vaguear neurótico, analisa poeticamente seu devaneio, esquece-se do que articulou há pouco. Não quer carimbar documentos, vestir a farda ou bater o ponto no escritório. Percorrendo as paredes do quarto, observa uma frase escrita há muito tempo, quase apagada, um borrão na parede, um salmo: Rompeu-se a corda e o pássaro vôou, livre.

Um comentário:

Visualizador disse...

Dodô.
como sempre apaixonante e fabuloso!