sábado, 4 de abril de 2009

Sobre a Virtude ou A Ressaca Moral

Quando a maturidade desejada haverá de se estabelecer em meu espírito? Nesse último mês meu cérebro tem sido palco de uma batalha imperiosa entre a virtude e a inércia. A Semana Santa está para chegar e, resolutamente, pretendo me isolar em casa com meus textos que, por sinal, estão atrasados. Estou passando por um daqueles momentos que cada gesto, toque ou palavra adquirem um ar negativo. No domingo, ao sair do clássico, um torcedor do Santa Cruz esbarrou propositalmente em mim enquanto eu andava desligado. Junto dele havia um grupo de mais cinco pessoas, todos fortes e sem camisa querendo arranjar confusão. Por alguns minutos antevi uma batalha naquelas escuras ruas do bairro do Arruda. Na segunda, a confusão com o professor de Química Aplicada, já narrada aqui nesse blog. Ontem, resolvi sair para me divertir e imaginem, enquanto estava isolado com meus amigos no bar, escutando-os mais do que comentando, tudo estava tranquilo. Mas, eis que quando resolvemos tomar a atitude de interagir com as pessoas, a conexão torna-se infausta.

Talvez seja um bom momento para parar de beber, por uns tempos. Ah, sempre diz-se isso quando se está de ressaca e, provavelmente, esteja dizendo isso no torpor da inconstância. Ah, se eu fosse romano! Faria um sacrifício aos deuses e minha confiança estaria reestabelecida. Preciso fazer as pazes com Baco. Ah, a timidez! Essa é uma legítima Medusa. Imobiliza-nos. Só se escapa ao seu poder evocando outros deuses: Afrodite requer um supremo desejo, Atena exige disciplina, mas Dionísio, este está sempre próximo e ao menor esforço oferece ajuda.

Tenho tentado encontrar a virtude, esta razão de ser, caminho da perfectibilidade. Mas, é tão difícil para um espírito que enamora-se tanto do desacerto! Aristóteles, este homem que parece ter pensado sobre tudo, dizia que o caminho da virtude é diário e que só é alcançado quando o próprio cotidiano se transforma em virtude. Dizia Hesíodo: "Para o mal em bando nos encaminhamos facilmente: seu caminho é suave e ele mora perto; mas diante da virtude os deuses colocaram suor e trabalho." Como toda esta idéia é bela e sã! Tenho tentado me aproximar do classicismo trabalhando corpo e mente. Iniciei-me na natação, quatro vezes por semana, para trabalhar o corpo. As aulas do mestrado estão ficando puxadas e me ajuda a trabalhar o intelecto. Meu objetivo é coexistir essas duas potências num espírito virtuoso. Ó, como são fascinantes as palavras!

O problema está na nossa natureza. Sim! Ontem mesmo, Tiago Peixoto nos lembrava que a culpa é da nossa natureza. Não preciso nem dizer onde foi que ele leu tais idéias. Quem poderia expôr as máculas do homem melhor que nosso mestre russo? Nossa natureza é imperfeita e a virtude deixa de ser uma realidade para se tornar um ideal. Ó, quanta filosofia rasteira de minha parte! Tudo para justificar minha ressaca moral. Há muito tempo digo para mim mesmo que preciso mudar de ares. Respiro meu poluto ar, em círculos, no mesmo lugar. Ó, Horácio! Tua palavra apunhala minhas ilusões. Dizia tu que a brevidade da vida nos proibe conceber longas esperanças. Eu que passei a vida desconfiando da filosofia política, quero crer num neoepicurismo! Ou será que já não vivemos assim? Onde encontrar a virtude num mundo que só vive o efêmero? A confusão e a dor existencial permancerão acesas. Ah, Horácio, vou terminar tudo roubando tuas palavras da Ode a Leucônoe: "Enquanto discorremos, o tempo invejoso vai passando: aproveita o dia de hoje, confiando pouco no amanhã."

5 comentários:

Sr. Anísio disse...

alguém pare o mundo: eu também quero descer...

Luciana Cavalcanti disse...

Bravo, Dodô! Bravíssimooooo!!!!

Sofia Galvão disse...

Adoro o jeito como tu escreve! E gostei desse tal de Horácio, pareceu ser um cara bacana. Hahahahaha :)

Ah, sim! Entrei no mundo inóspito dos blogueiros...

E lá vamos nós tentando equilibrar corpo e mente... Estou na mesma batalha interna e ressaca moral que tu, vou passar a semana santa em frente ao computador tentando me convencer de que estudo pra realmente mudar algo no mundo.

Beijos!

André Raboni disse...

Que texto belo!

Aristóteles me disse este fim de semana que deve-se estar atento à bilis negra.

Sua natureza escura, como os vinhos tintos, pode nos afundar em profundos momentos de melancolia.

Daí, veio Rilke e mais uma vez gritou-me silenciosamente que a tristeza e a solidão podem configurar momentos sublimes.

É paciência e vinho no juízo. Não tem remédio.

Na vida, a gente só faz uma coisa: vai morrendo.

Unknown disse...

Bebeu todas e não lembra do que fez?
Lembra o que fez, mas é tão ruim que era melhor ter esquecido mesmo?
Tá precisando de uma bela desculpa para fugir de um ato nada digno?

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