segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Fórum Social Mundial: Um Outro Mundo É (Im)Possível


Na última semana de Janeiro ocorreu na cidade de Belém o Fórum Social Mundial, evento que visa discutir a situação dos países pobres enquanto os ricos se reúnem na Suíça. Não foi a primeira vez que participei de tal evento, tendo viajado para Porto Alegre no ano de 2005, já tinha uma razoável impressão das coisas que encontraria por lá: comunista até doer na vista e ouvidos. Não serei hipócrita, tinha razões mais pessoais de conhecer o Pará do que salvar a humanidade de sua ignorância capitalista. Além do mais, conviver com comunistas brasileiros não é tão desagradável assim, pois em sua maioria são pessoas que estavam ali pra se divertir tanto quanto eu, bastava desligar a fita do discurso copiado e éramos todos iguais, num verdadeiro comunismo da pajelança.

Sob o lema "Um Outro Mundo é Possível", o Fórum, em seu início, parecia um local de convergência de pessoas realmente engajadas. Nossa delegação pernambucana chegou dois dias antes da reunião começar oficialmente e tive a oportunidade de acompanhar a chegada de gente do Brasil e do mundo todo. Um dos acampamentos me chamou muito a atenção, foi a Aldeia da Paz. Nesse recinto é terminantemente proibido o consumo de bebidas alcoolicas, cigarro industrializado, privadas sanitárias, carne... sem contar que tem que rolar uma inscrição antecipada pra ficar acampado lá, onde o sujeito é arguido de inúmeras perguntas para ser aceito, ou não. Ainda teve gente que conseguiu entrar sem a tal inscrição, mas aí tinha que rolar um face control: se não se parecer com um hippie, é quase impossível que consiga participar. Na primeira manhã, acordei cedo no meu acampamento onde podiam beber e sujar o chão e, parti para a Aldeia da Paz pra ver o que estava rolando no local onde as pessoas demonstravam maior empenho em mudar o mundo para uma perspectiva zen naturista. Cheguei no momento da reunião. Um monte de hippie argentino falando as regras do local, banho de incenso e regras para a alimentação. Tudo natural, brow! Depois passaram meia hora cantando músicas que diziam: Eu sou o ar, a água, a terra e o fogo. Seria melhor cantar Gita de Raul Seixas. Depois de quase uma hora observando, percebi que aquele lugar não era pra mim e com quase 28 anos na cara, não ficaria bem pagar de hippie por uma semana. Sai e só voltei na Aldeia da Paz no último dia.

O campus da Universidade F. Rural da Amazônia (UFRA) transformara-se numa verdadeira cidade com mais de 40 mil pessoas circulando a qualquer momento. Se por motivo de insônia, o cidadão resolvesse dar um passeio às quatro horas da manhã, encontraria alguém que estaria fazendo o mesmo pelos mesmos motivos. Se um extraterrestre desembarcasse por ali, pensaria que Che Guevara era o deus da Mecah social, pois sua foto estava estampada em milhares de camisas, brincos, chapéus, colares e quiçá na roupa íntima de alguém. Alguém devia fazer uma pesquisa séria sobre isso. Eu acho que a devoção a Che tem muita influência do cristianismo. Já perceberam como seu retrato lembra o Jesus Cristo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém? Além do mais, assim como Cristo, ele foi perseguido pelo povo que pretendia libertar. Ou vocês acham que os comunistas defenderam ele da CIA?

Minhas maiores experiências se desenvolveram do lado de fora da UFRA. Vizinha à citada universidade situa-se a mais perigosa favela de Belém, que saiu até numa reportagem de uma revista eletronica dominical como tendo a rua mais violenta do Brasil. Pois bem, resolvi encarar o Vietnã amazônico e cautelosamente sentei-me numa mesa de bar onde só tinha os nativos. Depois de uma hora de conversa, o pessoal já tava "amigo" meu. E traziam peixada de casa. Compraram charque pra fazer churrasco e outras cositas mais. Me falaram sobre o cotidiano na Terra Firme (nome da favela) e pude aprender mais do que nas palestras invisíveis de Leonardo Boff, Michael Löwy e Chomsky. Sabe, são essas coisas que eu não entendo no comunista brasileiro. Pra mim, o comunista brasileiro é um alienado. Durante a semana inteira ninguém falava sobre a situação da pior favela de Belém, que ficava ali ao lado. Entretanto, ai da Palestina! Que dor imensa vive o povo Palestino. Que sofrimento, Senhor Che! E um passava correndo enrolado na toalha, com sotaque paulista, e gritava aos berros: "Viva a Palestina!!" E qualquer um que ouvisse onde quer que estivesse, respondia: "Vivaaa!!!" E a Palestina respondia aos anseios utópicos de nossos intelectuais. Na metade da semana, eu desejava voltar para o convívio da realidade. Acho que na cidade onde esses adoradores de partido vivem, não tem favela ou gente analfabeta precisando de escola, porque realmente só a Palestina convém. E amigos, essa não posso deixar de relatar, sabem quem é o novo queridinho da intelectualidade universitária?? Pasmem! Barack Obama, o Presidente dos Estados Unidos. O mundo é realmente uma bola, como diria a canção do brega, porque comunista usando camisa com a foto do Presidente dos EUA é a primeira vez que eu vejo! Hahaha!! Perdoem-me a gargalhada, mas é inevitável. O pior de tudo é a inocência de imaginar que Obama vai ser bonzinho com os países pobres. Os mexicanos que o digam! Ouvi dizer que depois dessa novela na India, a globo vai fazer América II, e graças a Obama, a brasileira vai conseguir atravessar a fronteira!

Todos os dias um outro mundo é possível, mas não é fácil. Acredito que quando um professor faz o seu melhor pra ensinar crianças carentes, mesmo recebendo um salário humilhante, a verdadeira transformação ocorre, uma mudança que não altera os percentuais da macroeconomia. Quando se deixa de jogar o saquinho de pipoca pela janela do ônibus. Essa é a verdadeira mudança. Tenho nojo da política e dessa "democracia". Odeio o fanatismo político. No último dia do Fórum, um cidadão saiu correndo pelado pelo acampamento e discursando as coisas que aprendeu em tantos anos de partido, decorou bem a cartilha. Usava apenas um sutiã. Se era um protesto, pouco me interessa. Mas, aquela imagem serviu pra fechar o que o Fórum Social Mundial representa. O louco grita mesmo sabendo que não será ouvido. Ah, e a Aldeia da Paz, será que conseguiu manter-se limpinha no final? Depois que todos gritaram seus discursos e voltaram pras suas confortáveis casas, ficou no seringal apenas a chafurda.

4 comentários:

Flavio Campos disse...

Democrática mesmo foi a marcha da maconha que adentrou na Terra Firme...

Anônimo disse...

Adorei esta postagem, Dodô! Inevitável não rir e não concordar!
Ótima!
Bjs,
Fernanda (de SP)

Unknown disse...

Querido Dodô, brilhante sua análise do FSM! Justamente o q/ eu já imaginava desse tipo de encontro...

glauber disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

o forum me fez rir um bucado e o texto sobre ele tbmn nao ficou atras nao.

é bem porai