tag:blogger.com,1999:blog-85511839318514331852024-03-12T20:00:34.219-03:00Blog do Dodô"...e o insensato quer tormenta,
como se nela houvesse paz!" Mikhail LermontovDodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.comBlogger202125tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-627246417610107902013-03-31T03:20:00.002-03:002013-03-31T03:20:55.170-03:00Sexta-Feira da Paixão<br />
<div class="western">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Riz1wE0NNwg/UVfVo51sCfI/AAAAAAAAAcQ/UmGXynKHUa8/s1600/ippolit.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="191" src="http://3.bp.blogspot.com/-Riz1wE0NNwg/UVfVo51sCfI/AAAAAAAAAcQ/UmGXynKHUa8/s320/ippolit.jpg" width="320" /></a>Acabou.</div>
<div class="western">
E para onde vão os sonhos, as rotinas, os planos?</div>
<div class="western">
No quarto escuro de uma cidade abandonada,</div>
<div class="western">
Choro a decisão incerta. São Paulo não tem
ombros.</div>
<div class="western">
Passado, futuro, o disco de Fágner...</div>
<div class="western">
Quem viver, chorará.</div>
<div class="western">
<br /><br />
</div>
<div class="western">
Sentia falta de ser eu</div>
<div class="western">
O polêmico, o expulso do Marista, o homem da
meia-noite.</div>
<div class="western">
Não dá pra ser feliz,</div>
<div class="western">
onde o pequeno mundo é o maior país.</div>
<div class="western">
<br /><br />
</div>
<div class="western">
Peço perdão.</div>
<div class="western">
Por me enveredar sozinho no deserto.</div>
<div class="western">
<br /><br />
</div>
<div class="western">
E agradeço.</div>
<div class="western">
Pelos incontáveis momentos, pelo cuidado, pelo
formato.</div>
<div class="western">
<br /></div>
<div class="western">
(Chove no meu rosto)</div>
Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-45784437968453699822012-11-22T09:31:00.003-03:002012-11-22T09:40:31.054-03:00Desrespeito no Morumbi<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Neste domingo
(18/11/2012), dirigi-me com minha noiva até o Estádio do Morumbi
para assistir o jogo entre São Paulo Futebol Clube e Clube Náutico
Capibaribe. Sabia de antemão que a previsão de público era enorme,
devido a estreia do jogador Paulo Henrique Ganso e a possibilidade do
clube paulista garantir a vaga na Libertadores por antecipação,
liguei para o SPFC na quinta-feira (15/11/2012) para saber como
deveria proceder para comprar meu ingresso para a torcida do Náutico
no Morumbi. A funcionário me informou que os ingressos para a
torcida visitante seriam vendidos no dia do jogo, à tarde. Entrei no
site do clube paulista e no site do Globo Esporte para verificar e lá
estavam informando que o espaço da torcida pernambucana seria no
Portão 15, com capacidade para 3 mil torcedores, no anel superior
(arquibancada vermelha). Pensei que não haveria problema em
conseguir dois ingressos entre os 3 mil lugares reservados.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Cheguei nas imediações
do Estádio Cícero Pompeu de Toledo às 15:10h e me dirigi ao portão
15. Para minha surpresa, havia uma multidão tricolorida adentrando
pelo Portão 15. Segui e avistei uma faixa branca de pano com os
dizeres: Torcida Visitante Portão 18. O local reservado era o
confortável “espaço vip” de uma famosa empresa de cartões de
crédito. O local não comportava mais que 200 pessoas! Antes de
entrar, os funcionários do SPFC informaram que não havia mais
ingresso para a torcida visitante e que só liberaram 200 míseros
bilhetes para os pernambucanos. Ficamos no sol escaldante, sem
segurança policial, vestidos com a camisa do Náutico no meio da
multidão de mais de sessenta mil pessoas do São Paulo. Por sorte,
uma moça vestida com a camisa da Fanáutico apareceu com uns
ingressos, por volta das 16:15h e “salvou” a tarde de umas 40
pessoas. Muitos alvirrubros não toparam esperar ou não conseguiram
pegar um dos 40 ingressos e não puderam entrar no Morumbi.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Todos os 200 torcedores
do Náutico que estiveram no Morumbi poderão servir de testemunhas
(além das imagens da TV). Ou seja, o São Paulo Futebol Clube não
respeitou as leis do Estatuto do Torcedor que prevê a acomodação e
a segurança dos visitantes. Se haviam 62 mil pessoas no Morumbi,
6.200 ingressos deveriam ser reservados para a torcida do Náutico.
Mas, deixaram apenas 200 e as bilheterias do Morumbi fecharam às
10:45 da manhã, sem ingressos. Como torcedor alvirrubro residente em
São Paulo, peço à diretoria do Náutico que entre com uma
representação contra o São Paulo Futebol Clube para que, da
próxima vez, cumpra a lei. Nada mais do que a lei. Já acompanhei
jogos do Náutico no Pacaembu, Arena Barueri, Canindé e Anacleto
Campanela, e fui encontrar a mais horrenda bagunça no pretenso clube
mais moderno e organizado do Brasil. O local onde ficamos só podia
ser ocupado da metade pra trás, porque quem sentasse nas primeiras
cadeiras estava sujeito à cusparadas, copos plásticos e sapatos da
torcida mandante.A diretoria do Náutico tem a obrigação de
defender e representar seus torcedores que moram fora de Recife. Nós
somos embaixadores e seguidores do clube fora de Pernambuco. Conto
com a ajuda dos outros torcedores para a divulgação do fato para
que as outras diretorias dos clubes pernambucanos policiem junto ao
clube mandante a locação e a segurança dos torcedores visitantes
em outras praças esportivas. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-dVCjONsPnfQ/UK4a7B98ruI/AAAAAAAAAb8/DpGTOnwEB6g/s1600/100_4765.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="http://2.bp.blogspot.com/-dVCjONsPnfQ/UK4a7B98ruI/AAAAAAAAAb8/DpGTOnwEB6g/s320/100_4765.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Saudações
alvirrubras,</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Dodô. </div>
Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-86412206847054153032012-10-31T13:48:00.001-03:002012-10-31T13:48:15.439-03:00Tempo de tolerância<br />
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">Quando
Ivan Turguêniev publicou seu mais famoso romance, Pais e Filhos, em
1862, inaugurou uma temática de importância fundamental no estudo
da literatura russa da segunda metade do século XIX: a questão
niilista. A grandeza do romance proporcionou um acalorado debate
entre os pensadores da época, e a locação do protagonista Bazárov
em determinado nicho ideológico era primordial para a popularização
do homem "liberal" russo. Após o sucesso do romance, Fica
evidente a bifurcação entre literatura niilista e anti-niilista. </span></span></div>
<div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.35cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">Neste
universo onde não havia espaço para a tolerância, onde os radicais
e intelectuais liberais viviam sós, num abismo duplo entre o povo
ignorante de sua tarefa política e de uma autocracia distante, havia
uma voz que tentava conciliar as partes separadas: a voz de
Dostoiévski no seu periódico, <i>O Tempo</i>.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.35cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">Recém-chegado
da Sibéria em São Petersburgo, Dostoiévski retornou num momento de
forte discussão política e tratou de colocar <i>O Tempo</i> na
praça. Seus companheiros eram os críticos Apolon Grigóriev e
Nikolai Strákhov, além do seu irmão mais velho, Mikhail. Juntos
fundaram um movimento chamado “Pótchvenichestvo”, uma espécie
de “retorno às raízes”, mas num sentido mais amplo do que o
fornecido pelo primeiro Romantismo alemão. Dostoiévski e sua
plêiade intentavam difundir uma ideia que fosse conciliatória, que
levasse a educação ao povo do campo, mantendo as tradições russas
e transformando pacificamente a sociedade. Assim pensava Dostoiévski
em 1861:</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.35cm; margin-left: 3.97cm;">
<span style="color: black;">“<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: small;">Outro
aspecto digno de nota no programa editorial de Dostoiévski, que mais
uma vez o distingue dos radicais, é sua insistência no fato de que
a transformação deve ocorrer pacificamente e a convicção (ou
esperança) de que a violência será evitada. 'Sem dúvida, a
questão mais importante atualmente é a melhoria das condições de
vida dos camponeses. […] O desenvolvimento dos futuros princípios
de nossa vida não deveria fundamentar-se na inimizade entre as
classes, entre conquistadores e conquistados, como acontece em toda a
Europa. Nós não somos a Europa, e entre nós não deveria haver
conquistadores e conquistados.'” (FRANK, 2002; 69)</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.35cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.35cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">Este
é um período interessante da carreira de Dostoiévski, o escritor
dos abismos da alma, dos gestos extremos, encontrava-se receoso em
opinar sobre o tema, buscando conciliações entre os conservadores e
liberais. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.35cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">Mas,
a paciência de Dostoiévski teve um limite. Com o passar dos anos,
suas relações com os radicais foi se agravando e seus termos com
Turguêniev foram se tornando mais distantes. O tema do niilismo
acompanhou Dostoiévski por toda a década de 1860, tendo se iniciado
em <i>Notas do Subsolo</i> (1864); encontrado em
Raskólnikov de <i>Crime e Castigo</i> (1866) um niilista
que vai transpôr para a prática as teorias do “tudo é possível”;
até chegar na sua ojeriza máxima aos radicais nos personagens
aloprados de <i>Os Demônios</i> (1871).</span></span></div>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.35cm;">
</div>
Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-33056665716127538382012-10-31T13:25:00.002-03:002012-10-31T15:07:25.086-03:00E se tivesse morrido...<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Faz calor em São
Paulo. Duas quadras abaixo, a polícia faz um pente fino na favela.
Mataram um policial da Rota dias atrás. Ainda ficarei mais uma
semana sem qualquer dinheiro. Pela janela, o mundo nitente. O livro
de Sartre que abandonei há doze dias, diz na página 96: “E se
tivesse morrido...” Li toda a página sem entender, talvez devesse
retroceder. Faz tempo que não escrevo nada, nem sobre a desilusão.
Seria esse o estado mais avançado do niilismo?</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
Que dia estúpido para se morrer.</div>
Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-9165826167945120142012-05-23T16:10:00.003-03:002012-05-23T16:32:01.150-03:00O Assunto da Semana<div style="text-align: justify;">
A semana começou conturbada no maior país da América do Sul, tudo porque a mais famosa apresentadora infantil expôs uma parte dos seus problemas pessoais para a imprensa. Bem, não me cabe estabelecer juízo de valor, pois tenho uma péssima relação com o presente. As mudanças são tantas que, cada dia menos, sei jogar este reality show. Portanto, me eximo de comentar sobre o caso, ao menos neste primeiro parágrafo. Mas, muita gente andou comentando por aí. Eu não vi a famosa entrevista, mas imaginem só - sei de tudo! – Isto porque todo mundo deu a sua opinião: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Primeiro, os gaiatos. Ah, esses fizeram fotomontagens com a apresentadora na entrevista e no seu mais famoso filme, <i>Amor, Estranho Amor</i>; criaram frases moralistas do tipo: “Ah, reclama de abuso infantil e fez um filme pornô com um menino de doze anos!” - Acusaram os revoltosos. E mais, tantos outros escreveram justificativas pautadas no comportamento da juventude dos anos 2000, com dados sociológicos, inclusive! O argumento era, grosso modo, assim: muitas crianças que faziam as coreografias sensuais que Xuxa ensinava no fim dos anos 80 foram molestadas pelos mais velhos por despertarem uma primaveril sensualidade. Isto, veja bem, explicaria a liberação sexual mais agressiva após a segunda metade da década de 1990. Houve até quem citasse o famoso livro de Vladímir Nabokov, <i>Lolita</i>. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E por falar nos sociólogos, esses paladinos da verdade coetânea, eles também opinaram. Estes nossos amigos imprescindíveis, são os carimbadores oficiais da justiça, os delimitadores da fronteira do legal. Eu mesmo, na ausência do entendimento do presente, sigo-os sempre. Sinto até vontade de ir pras suas ocupações, marchas e protestos. E sinto vergonha quando não participo. Pois bem, estes vanguardistas das ciências humanas alertaram para a importância de se discutir o caso: a pedofilia no Brasil precisa ser combatida. Um problema antigo, que remete ao machismo impetrado em nossa sociedade colonial, cujas origens se encontram no século XIX. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E por falar no século-pai da contemporaneidade, como não lembrar dos historiadores! Pois bem, eles também dissertaram sobre o desabafo da Rainha dos baixinhos. Li relatos que buscaram as origens do interesse sensual pela juventude. Um amigo historiador comentou sobre o acontecimento que envolve o baile de 15 anos de uma garota. E vejam, seus argumentos foram tão convincentes que se não fosse por um niilismo covarde, eu até me abraçaria à sua preleção. Ele dizia que, historicamente, as moças após a primeira menstruação já começavam a ser cortejadas pelos marmanjos, sendo assim, a festa de 15 anos, tão tradicional entre mocinhas da minha geração, por exemplo, seria uma maneira de o pai apresentar a filha à sociedade: “Vejam, minha beldade está à disposição dos homens de boa corte.” Que argumento imperioso! Pautado numa tradição de décadas, quiçá séculos! É, mas houve quem questionasse a maturidade da donzela... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E os psicólogos também encheram as redes sociais de argumentos muito seguros de que o cérebro humano ainda está em formação e que precisava ultrapassar as etapas necessárias para uma boa auto condução moral, além do tempo necessário para a transição entre a infância e vida adulta, de maneira que toda moléstia a adolescentes, se encerra em crime a ser repudiado pela justiça. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os jornalistas escreveram sobre questões técnicas: houve quem lembrasse que as paredes do cenário e o piano ao fundo da análise pública eram muito apelativos. Outros, filiados à imprensa marrom (acho que os oceanos midiáticos possuem essa cor hemorroidal), traçaram mil especulações e ganharam assunto para semanas, garantindo assim, a informação para o ávido público consumidor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Parece que todos possuem uma opinião sobre o caso e, ficaria até feio para mim não opinar também, já que o pobre leitor perdeu seu tempo até o último parágrafo. Escrevo de dentro do metrô, ao meu lado, duas senhoras gordas conversam sobre o depoimento da apresentadora ao programa dominical, acharam um absurdo aquela super exposição. Imaginem, o metrô está parcialmente em greve, anda tão devagar, devido à operação tartaruga, que deu até tempo de escrever essas linhas. A voz mecânica advertiu: “Estação Terminal Butantã, solicitamos que desembarquem do trem nesta estação.” Bem, na próxima postagem, eu dou minha opinião sobre o valioso caso.</div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-8652349205301640592012-01-26T14:47:00.003-03:002012-01-26T14:58:53.281-03:00O Quirguiz<a href="http://3.bp.blogspot.com/-CsBnJhGE1IM/TyGSgLj3VPI/AAAAAAAAAb0/8d6dqykrJKQ/s1600/100_1420.JPG"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-CsBnJhGE1IM/TyGSgLj3VPI/AAAAAAAAAb0/8d6dqykrJKQ/s400/100_1420.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5701999684784444658" /></a><br /><br />Esse foi meu último dia no Tartaristão. Partindo da casa de Masha para a estação de trem, o tempo já era curto, mas Masha teve a ideia de que eu deveria comprar uma matriosha numa lojinha de souvenirs, pois em Kazan seria mais barato que em São Petersburgo. Estava um dia quente, uns 14 graus positivos, fazia sol e não tinha muitas nuvens no azul-claro tártaro. Compramos a matriosha e entrei no vagão da terceira classe (plazkard) com o trem já apitando a partida. Para minha sorte, o trem não estava lotado, das seis vagas da cabine, apenas três pessoas ocupavam: eu, um lutador de sambo (luta greco-romana) e um homem moreno, com a pele do rosto queimada do frio, olhos levemente puxados, era um quirguiz.<br /><br />Cumprimentei meus companheiros de viagem, afinal passaríamos 25 horas e meia, juntos, no trecho entre Kazan e Peter. O trem partiu às dez da manhã e eu não comprara cigarros, minha carteira de Marlboro Light só tinha mais duas unidades. Perguntei se algum dos companheiros tinha isqueiro. O lutador de sambo não fumava e o quirguiz tinha fósforos, e foi me fazer companhia no último compartimento do trem, donde se pode ver a estrada ficando pra trás. Enquanto fumávamos, mostrei minha preocupação que após aquele cigarro, só teria o último. O quirguiz me mostrou uma carteira de cigarros muito barato, cheinha. Dentro de uma hora passei a me utilizar da sua carteira que, por cortesia, ele deixava em cima da sua mesa e me oferecia o tempo todo. O lutador de sambo pouco se comunicava, estava muito calado e pelas marcas no rosto, deveria ter lutado em Kazan dias atrás. Talvez tivera perdido a luta, estava com o rosto todo cortado. Não ousei perguntar muitas coisas, ele apenas disse que era de Tver e estava voltando pra casa, na cidade que fica no caminho entre Moscou e Petersburgo.<br /><br />Novamente, fui fumar com o quirguiz e passamos a conversar longamente. Ele ficava muito feliz em conversar comigo, dizia que era a primeira vez que via um brasileiro. Era a primeira vez que eu conversava com alguém do Quirguistão também. Durante os três meses em que fiquei no Tartaristão, tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas da Ásia Central: azeris, turcomenos, tadjiques e uzbeques, mas nenhum quirguiz. O Quirguistão é o mais pobre desses países pobres da Ásia Central. Ainda pagando o tributo de uma recente guerra civil, o país vive no caos, sendo habitado, em sua maioria, por mulheres, velhos e crianças, pois os homens adultos vão tentar a sorte noutros países, especialmente no vizinho Uzbequistão, um pouco mais organizado. Assim também acontecia com meu amigo, cujo nome diferente agora não me lembro, mas que deixou impressões fortes no meu espírito. <br /><br />Como eu não tinha me preparado para a viagem, chegara em cima da hora, não tinha trazido lanches e, de início, tive que comprar o chá no próprio trem, por 12 rublos. Ao me ver pagar pelo chá, o quirguiz disse: não precisa, eu tenho bastante chá e pão preto, além de uns biscoitinhos doces. Eu prometi que tão breve o trem fizesse uma parada mais longa compraria tudo: chá, lanche e cigarro. Fomos fumar seu cigarro, pois o meu acabara. Era péssimo, tinha gosto de pólvora e era mais “quente” que o normal. O quirguiz me contou sua história: estava há três anos longe de casa, onde deixara esposa e três filhos numa aldeia e fora tentar a sorte em Bukhara, cidade uzbeque. Lá trabalhava como pedreiro, até que apareceu a chance de trabalhar como peão numa fábrica em Nizhnekamsk, perto de Naberezhnye Chelny, onde eu morei. A fábrica ia de mal a pior e já fazia três meses que ele não recebia salário. Com o pouco dinheiro que recebia na Rússia, sustentava a família no Quirguistão. Gastava muito dinheiro com ligações telefônicas pra falar com os filhos e esposa. Eu escutava seu relato emocionado. Mas, a emoção desses homens das montanhas da Ásia Central são diferentes das nossas. Eles nem pensam em chorar, embora seus corações fiquem trêmulos de saudade. Desde cedo aprendem a ser fortes. Agora, estava indo para São Petersburgo, onde um amigo prometera-lhe um novo emprego na construção civil. Ele me perguntou se eu sentia falta da minha família, no Brasil. Disse-lhe que sim, mas que os via todos os dias pelo Skype, sem pagar um copeque por isso. Ele arregalou os olhos! Expliquei-lhe que havia um programa de computador que permitia conversar com as pessoas, vendo as imagens, inclusive. Ele se interessou demais pelo assunto, anotou os nomes e disse que tão breve recebesse o salário, compraria um computador e enviaria para a família. Mas, depois ele se entristeceu novamente, pois na aldeia quirguiz ainda não tinha internet. <br /><br />Ficamos conversando longamente, falei-lhe do Brasil, de como nosso país é bonito, mas pobre também. Ele me falava das montanhas e desertos de sua terra. Quando o trem parou numa cidade da Tchuváshia, comprei cigarros, dei um Marlboro pra o meu amigo e comprei comida para uns três dias de viagem. Logo o lutador de sambo entrou na conversa também, ele achava engraçado um brasileiro e um quirguiz conversando no mesmo vagão que ele, em russo, cheios de erros gramaticais. O lutador de sambo mostrou foto da namorada, falou da sua cidade, a famosa Tver, terra natal de Bakúnin e onde Dostoiévski viveu por seis meses, na volta da Sibéria. Às quatro da manhã, o lutador desceu em Tver, estava escuro ainda, eu via as luzes manchadas da cidade grande. Voltei a dormir. Quando acordei estava claro e o quirguiz estava na janela olhando a paisagem cheia de pântanos, lagos e rios. Era a certeza que estávamos chegando perto do destino, a capital de Pedro, o Grande. Quando o trem chegou ao destino final, tive vontade de abraça-lo, mas sabia que isso não seria correto para a cultura dele, apertei sua mão com força e desejei-lhe muita sorte na vida, saúde para si e sua família. As imagens do seu rosto, das nossas conversas, estão vivas em mim, e continuarei levando nas memórias daqueles meses inesquecíveis. Outro dia, caminhando perto da Praça Sennaya, na Avenida Staro Petergovskyi, observei um grupo de pessoas jogando futebol numa quadra, aproximei-me, disse que era brasileiro e gostaria de saber como poderia entrar pra jogar. Um quirguiz falou comigo, não era o mesmo do trem, mas disse: “ora, um brasileiro, você vai jogar no meu time na próxima partida!”Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-80418960600042376912011-12-21T02:23:00.007-03:002011-12-21T10:14:10.710-03:002011, The Magic Year.Todo fim de ano nos pegamos repetindo os mesmo rituais: uma análise do que se viveu e uma preparação para nossas aspirações de imortalidade. Nessa retrospectiva íntima, só posso agradecer ao que me aconteceu nesse ano que se finda. Consegui alcançar os objetivos profissionais que tracei, e tive, de bônus, algumas surpresas positivas. <br /><br />Logicamente, nem todos os dias foram de segurança e felicidade, também não é isso o que almejo. Viver sem dor é não ter carne, e ainda não somos robôs. Perdi amigos em 2011, passei mais da metade do ano sem ter dinheiro para ir no cinema, tédio e enfado visitaram-me com frequência. Mas, o pulo do gato foi dado nesse ano que teima em avisar, ainda tenho dez dias. <br /><br />No último reveillon, estava na casa da família Perez, dos meus amigos-irmãos, Tiago e Hugo, quando à virada do calendário, pus-me a atacar os sonhos. Diante do mar quente de Itamaracá, decidi que iria viajar e que iria tentar a seleção de algum doutorado nalguma universidade brasileira. Eu que há tantos anos sonhava nas páginas de Tolstói e Dostoiévski, um dia sentir o cheiro da terra russa, tocar sua neve, escutar suas vozes, mesmo que por ecos distantes. Decidi-me que iria viajar para a terra dos meus escritores favoritos, nem que para isso vendesse tudo o que eu tivesse, e passasse quinze dias no inverno de Moscou. Quis o destino estar ao meu lado. Encontrei uma ONG chamada AIESEC que me levou, não pra sonhada Moscou, mas para uma cidade desconhecida do Tartaristão, onde vivi dois meses e meio de uma lua de mel única. Ainda passei quinze dias a percorrer as outras cidades que mais desejava, entre elas, a mítica Novgorod e a desejada Petersburgo. A Rússia foi um capítulo de páginas infindáveis de um livro que, com fé no destino, será reeditado.<br /><br />Deixei, a contragosto, a terra que me abraçara de maneira maternal. Em quase três meses, a Rússia tinha me dado duas oportunidades de emprego, amizades, uma paixão abrasadora, lembranças inesquecíveis. Mas, por um capricho burocrático, tinha que voltar a Recife, onde não teria emprego, nem motivação. Passei um mês de ressaca. Até que resolvi procurar uma professora em São Paulo que nunca me negava orientação nos estudos. Falei que tinha um projeto para trabalhar o niilismo na obra de Dostoiévski. Meio sem acreditar, tentei a seleção do doutorado da USP, justamente no departamento que mais sonhava, o de Língua e Cultura Russa. Após quase dois meses de ansiedade, o resultado me foi positivo. Agora aguardo o momento da nova mudança.<br /><br />Também foi o ano de vestir a camisa do tempo. Os trinta anos me caíram nos ombros, com aquela necessidade de solidez, montada no impetuoso fulgor dos vinte anos. Cada dia que passa, gosto mais de ficar em casa, com meus livros e minhas ríspidas inquietudes. O desejo de estabilidade ronda o cotidiano. <br /><br />Pelos dois objetivos alcançados, e narrados anteriormente, o ano já teria sido magnífico. Mas, a vida nos reserva outras surpresas: a convivência com meus velhos pais e os pequerrotos sobrinhos, a boa defesa da dissertação do mestrado, a subida do Náutico de divisão, a presença afável de quem se aproximam nas asas metálicas de um avião... 2011 me cochicha, na surdina, que Deus fez o mundo em sete dias, por que não viver os próximos dez?Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-74615777559406108752011-12-20T23:35:00.005-03:002011-12-21T00:39:13.200-03:00O Bom Momento do Futebol Russo<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Svfb7WLQYHc/TvFSVzKYxYI/AAAAAAAAAbo/iPJNX5eXbwQ/s1600/meu%2Bquarto.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-Svfb7WLQYHc/TvFSVzKYxYI/AAAAAAAAAbo/iPJNX5eXbwQ/s400/meu%2Bquarto.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5688418338810152322" /></a><br />Nos últimos dias, estive a pensar em criar um blogue que falasse somente sobre o futebol russo. Pra quem acompanha este pequeno terreno virtual sabe que todos os caminhos conduzem às estepes russas. Aproveitando o bom momento vivido pelos clubes russos e por sua seleção nacional, pensei: "Por que não criar um blogue?" Um pequeno projeto para janeiro, se o destino aprouver. Mas, vamos ao que interessa! O que me motivou mesmo a escrever sobre o futebol russo foi a passagem dos seus quatro times às fases decisivas das competições europeias. Pela Liga dos Campeões, CSKA e Zenit (ambos ex-campeões da antiga Copa da UEFA na década de 2000) se classificaram para as oitavas de final da Champions. Pela Liga Europa (antiga Copa da UEFA, os tártaros do Rubin e os moscovitas do Lokomotiv, também garantiram ingresso nas fases decisivas.<br /><br />Certa vez, um torcedor do Arsenal, ao protestar contra a compra de parte do patrimônio do clube pelos empresários norte-americanos reclamou com uma frase que simboliza a era super profissional do esporte bretão: "Antigamente, era futebol e um pouco de dinheiro. Hoje é dinheiro e um pouco de futebol." Sábias palavras do torcedor inglês. Ainda na década de 1980, clubes podiam despontar no cenário mundial, com os brios de atletas regionais e fazerem a fama épica de sua labuta futebolística. O escocês Aberdeen foi campeão da Recopa em 1983 com um time formado por jogadores escoceses da região, liderados por Sir Alex Ferguson, batendo o todo poderoso Real Madrid. O Nottingam Forest foi campeão da Liga dos Campeões em 1979 da mesma forma. E outros exemplos existem da época do futebol romântico. Hoje, sem o apoio financeiro, fica difícil ter um campeonato nacional forte e equipes se destacando em competições continentais. O futebol russo entrou de cabeça na era dos mega-negócios esportivos. Os principais patrocinadores dos times russos são empresas de extração de petróleo e gás: Lukoil, Gazprom, Bashneft, além de outras multinacionais.<br /><br />O Campeonato Russo está parado, devido às nevascas do período e só deve retornar no final de março, começo de abril. Quem lidera o campeonato é o forte time do Zenit, aquele que menos oscila. O Zenit dispõe de vários jogadores internacionais (os portugueses Dani e Bruno Alves, o sérvio Lazovic e o belga Lombaerts, são alguns exemplos), mas também tem vários jogadores russos de qualidade, destacando-se o centroavante de área, Bukhárov, atual centroavante da seleção russa, com todos os méritos, pois tem jogado melhor que a pseudo-estrela do Tottenham, Pavliuchenko. O Zenit também conta com o caldeirão do Estádio Kirov, localizado às margens do Golfo da Finlândia, em São Petersburgo. A equipe é treinada pelo italiano Luciano Spaletti. <br /><br />Outro time russo muito forte e que está em segundo lugar no campeonato russo é o CSKA. Confesso que o time que mais simpatizo, além do Rubin. O CSKA é um time muito bem arrumado taticamente pelo treinador Leonid Slutsky. A base do time é toda russa, começando pelo goleiro titular da seleção, Akinfeev. A zaga conta com o titularíssimo da seleção,, Ignashevich, e os irmãos Vitali e Alexei Berezutsky. No meio de campo, a experiência de Aldonin, além das promessas Mamaev e Dzagoev, ambos vistos como o futuro meio-de-campo da seleção. No ataque, o excelente marfinense Doumbia e o nosso conhecido Vágner Love. O CSKA, clube que desde a década de 1930 já recebia jogadores negros em seus elencos, parece ter uma torcida mais tolerante num mundo que ainda sofre com preconceitos raciais ridículos.<br /><br />O terceiro clube que analisamos é o Lokomotiv, detentor da terceira maior torcida de Moscou, um time irregular, embora tenha um excelente elenco, onde se destacam, no ataque, o experiente Sychev, ídolo maior do clube, o excelente equatoriano Caicedo, além do meia esquerdo Torbinsky, da seleção nacional. O Loko carece de uma boa sequência de vitórias pra merecer brigar pelo título desta temporada. <br /><br />O quarto clube que analisamos é o Rubin Kazan, campeão russo em 2009, faz uma campanha regular este ano, embora também possua um brilhante elenco, onde se destacam o turco Karadeniz, o equtoriano Noboa, o atacante paraguaio Valdés e o africano Martins (ex-Inter de Milão). A grande decepção do time kazanense fica por conta do brasileiro Carlos Eduardo, ex-Grêmio, contratado junto ao Hoffenhein da Alemanha por nada menos que 20 milhões de euros e que quando não está machucado, não merece a titularidade. O Rubin está apenas em quinto no Campeonato Russo.<br /><br />Os quatro times acima analisados são os que conseguiram vagas nas próximas fases das competições européias. Deles, o CSKA tem a missão mais difícil: enfrentará o Real Madrid. Mas, creio que uma boa partida no Estádio Luzhniki, pode dar chances aos krasnyi-sinyi moscovitas na partida de volta na capital espanhola. O Zenit enfrentará o Benfica, numa batalha, ao meu ver, sem favoritos. E como o Zenit é o mais estável dos times russos, confio que possa brigar ferrenhamente pela vaga nas quartas. Pela Liga Europa, o Rubin Kazan vai enfrentar o Olimpiacos da Grécia. Missão difícil, mas também não antevejo favoritos. Já o Lokomotiv enfrentará os bascos do Athletic Bilbao, uma equipe sempre difícil de ser batida, mas como disse anteriormente, o maior problema do Lokomotiv é a instibalidade, joga partidas boas e ruins de uma semana para a outra. <br /><br />Deixo para uma outra postagem, as análises dos outros times russos, como o Spartak Moscou, clube de maior torcida do país, além do Dinamo Moscou, e da nova estrelas do business esportivo, o daguestano Anzhi Makhachkala. Quem sabe eu crio o blogue e posso falar, inclusive, da segunda divisão russa, donde tive a oportunidade de assistir dois jogos na casa do Kamaz, em Naberezhnye Chelny. Desejo boa sorte aos times russos, com especial ênfase ao CSKA e o Rubin, embora reconheça que a missão do rubro-azul de Moscou seja dificílima.Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-52971021270359208922011-11-10T00:32:00.006-03:002012-01-31T00:12:53.185-03:00Recordação do Pôr do Sol no Monastério de Hayfa<img src="http://2.bp.blogspot.com/-3ap0pK1GxTA/TrtGuhOGZVI/AAAAAAAAAbc/23czjZ7eaTw/s400/100_1351.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5673205920608707922" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 300px; height: 400px; " /><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size:12.0pt; line-height:115%">Era noite de primavera naquele monastério distante, fronteira do Tartaristão com o místico Estado de Mari-El. O sol, numa ignorância poética, já havia partido rumo ao ocidente, restava apenas sua tinta dourada no céu azul. Um sino tocava de forma espaçada, fazendo concorrência aos salves sibilíticos dos pássaros. Ao redor, tudo era perfeita harmonia: a floresta, o lago com uma finíssima camada de gelo ao longe, quase ninguém. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:12.0pt; line-height:115%">Caminhando pelo bosque atrás da catedral ortodoxa lembrava da minha infância, de uma inocência perdida lá dentro da carne humana. Estava distante de casa, mas tão próximo da perfeição. O silêncio me invadia a alma, enquanto traçava uma analogia entre a vida e o crepúsculo. Não seria nossa passagem pela Terra, um melancólico, curto e esplendoroso pôr do sol? <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:12.0pt; line-height:115%">De alguma maneira, gostaria de preservar aquela paz comigo. Mas, o tempo marchava e as trevas avançavam rumo ao ocidente na sua batalha campal diária. Também em mim, a noite retomaria seu espaço. Estava na hora de voltar à Kazan. <br /><br />Alguns meses se passaram, oscilantes dicotomias de luz entre diferentes interpretações daquele pôr do sol. Um pequeno quadro do monastério de Hayfa, quase todos os dias esquecido na parede, trouxe-me a plácida reflexão daquela quase perfeição esquecida.<o:p></o:p></span></p><p></p>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-15385074636118595422011-10-17T01:04:00.009-03:002011-10-17T09:27:33.907-03:00O Coração dos Aflitos<a href="http://2.bp.blogspot.com/-wJntoTI5kwI/Tpurf-4xrsI/AAAAAAAAAa8/_Q1Xc0iDGdU/s1600/ESTADIO-AFLITOS1.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-wJntoTI5kwI/Tpurf-4xrsI/AAAAAAAAAa8/_Q1Xc0iDGdU/s400/ESTADIO-AFLITOS1.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5664309522293960386" /></a><div style="text-align: justify;">Nesta segunda-feira, 17 de outubro de 2011, o Clube Náutico Capibaribe assinará o contrato de parceria com uma grande empreiteira e o Governo do Estado, para que o clube passe a assumir o estádio da Copa do Mundo de 2014, a chamada Arena da Copa. Aliás, esse nome “arena” me incomoda. Por que não estádio ou coliseu? O estádio nos lembra que o esporte competitivo também <span> </span>é uma arte, um teatro à céu aberto que nos conduz, muitas vezes, às raias mais tensionadas da emoção.</div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">O Náutico abandonará sua casa, o Estádio Eládio de Barros Carvalho, popularmente conhecido como Aflitos, nome do bairro onde se situa o clube, que por sua vez, possui este nome graças à capela de Nossa Senhora dos Aflitos. Dirigentes ávidos por mudanças assinarão um contrato em que o Náutico alugará o terreno do estádio para que construam algo rentável (um shopping, edifícios empresariais...) para as construtoras. Em troca do aluguel, terá uma renda mensal vantajosa para os padrões atuais, receberá a Arena da Copa (um estádio nos moldes mais modernos), melhorias estruturais no Centro de Treinamento da Guabiraba e a possibilidade de se tornar independente financeiramente.</p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify">As vantagens parecem incontestes do ponto de vista econômico. Mas, <span> </span>“quando a<span> </span>esmola é demais, o santo desconfia”, e alguns fatores me deixam escaldado. O primeiro foi a rapidez em se resolver pela venda do estádio. Entre o surgimento da notícia, a votação pelos conselheiros e a assinatura do contrato, não teve o intervalo de três meses, sequer. Um, dois, três e <i>pimba</i>! Não houve uma pesquisa entre os amantes do clube, uma enquete séria com as grandes mídias, uma urna na entrada dos sócios para pedir-lhes a opinião. Mal os torcedores discutiam nos bares ao redor do estádio, a notícia já estava pronta, com as “vantagens” supracitadas.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Entretanto, assim como na reprodução do cotidiano, os sentimentos são esmagados pelos números convincentes do discurso econômico. Ufanam os entusiastas: “virão títulos, modernidade, seremos a maior força do Nordeste...” Mas, se esquecem que o maior patrimônio de um clube é a torcida. A relação do Náutico com seu (ainda) atual estádio é visceral. O Estádio dos Aflitos foi o palco do hexacampeonato; da mais dolorosa derrota da nossa história, a umbrática Batalha contra o Grêmio; é, acima de tudo, o caldeirão que faz a diferença nos últimos anos pró-Náutico (vide sermos o único clube invicto das duas principais divisões em seu mando). É o teatro<i> lato sensu</i>, onde se ri e se chora.</p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><o:p></o:p></p><img src="http://1.bp.blogspot.com/-g4JlOpw46AI/TpurxoQpjPI/AAAAAAAAAbI/64qbT8nG42s/s400/arena.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5664309825457720562" style="float: right; margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 286px; height: 176px; " /><div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify">O Náutico não possui a maior torcida da capital, perdemos em números para o Santa Cruz e o Sport, porém a presença da comunidade em um estádio central como os Aflitos mostra à cidade a presença da nação alvirrubra. Os Aflitos deram visibilidade ao Náutico, pois quando o time joga em seu reduto, mesmo quem não gosta de futebol sabe: hoje o Timbu tá na área. <span> </span>Sem demérito à cidade de São Lourenço da Mata, o novo estádio dificultará o acesso de quem mora em cidades como Olinda, Paulista e Jaboatão, por exemplo. Sem contar que nos jogos que acabariam à meia-noite, seria perigoso pegar a BR-232 e voltar pra casa. Além do mais, essa conversa que "vamos construir isso e aquilo pra facilitar o acesso", fica ao gosto de quem acredita em promessas políticas.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Em suma, corremos o risco de termos uma Arena vazia, que satisfará uma minoria obsequiosa por dinheiro, em oposição ao legítimo sentimento da torcida de perda da identidade. O que me incomoda nesse processo relâmpago é a velocidade como a negociação foi conduzida. Por que não se maturou um pouco mais sobre o tema? Por que não fizeram uma pesquisa com torcedores em dias de jogos? Será que ainda há tempo de conter o irremediável? A cidade continua crescendo, atropelando a história e as afetividades, em nome da glória mercadológica. Há de se endurecer a alma um pouco a cada dia para se adaptar às necessidades do mundo descartável. <o:p></o:p></p></div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-33119381656231005972011-09-26T23:09:00.004-03:002011-09-27T11:04:43.738-03:00Valeu, Edwind!<div style="text-align: justify;">Hoje, faleceu meu tio, Edwind Julio Almanza Baca, em Salvador, Bahia. As causas da morte, eu ainda não sei, tampouco me interessa. Não quero lembrar da ausência. Edwind veio da Nicarágua para o Brasil com pouco dinheiro e uma garrafa de whisky, ainda no final dos anos 1970, como ele mesmo contava. Homem boêmio e "desenrolado", conseguiu sobreviver num país estrangeiro, com pouquíssimos recursos e muito jogo de cintura. Morava na casa do estudante da UPE e guardava a marmita do almoço para completar a janta. Edwind não era meu tio de sangue. Mas, será mesmo que não? Se o coração é o distribuidor do sangue pelo corpo, como Edwind não era meu parente?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Edwind nos aproximou daquele minúsculo e despretensioso país, um dos mais pobres das Américas, marcado por conflitos entre caudilhos e populares, com fortes cicatrizes pelas trêmulas montanhas. Ainda assim, aquele desapercebido lugar, foi escolhido por mim, ao menos duas vezes durante a vida escolar, como exercício nas aulas de geografia. A salsa, as músicas de Bemvindo Granda, o rum Flor de Caña, as imagens de sua pequena cidade, Boaco. Graças a Edwind, a Nicarágua era maior que o México ou a Argentina, por exemplo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O imenso Brasil não foi de acolhida fácil. Edwind viveu em Recife, no sertão de Parnamirim, até se consolidar economicamente no Recôncavo Baiano. Quando chegou lá, já levava consigo sua bela família. Nesse tempo, ele já era o Tio Amendoim, que sempre vinha passar as férias na casa do meu avô, no bairro do Engenho do Meio, onde ainda hoje resido. Sua chegada era aguardada com ansiedade por todos na casa. Quando eles ligavam de algum ponto na estrada, dizendo que chegariam tal hora, meu avô Emílio punha-se na porta a esperar, quando o carro chegava, recordo-me de estar ao lado do meu avô, sempre vestido de branco, que soltava um uivo agudo de felicidade: "uiááá!" Eles vinham para ficar um mês inteiro! Ao seu redor, todos se sentiam à vontade, Edwind tinha o raríssimo dom de agradar a gregos e troianos, sem ser hipócrita ou forçado. Era sua espontaneidade que cativava e conquistava.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há exatos onze dias, numa noite de quinta-feira, escutei um barulho de carro parar na frente de casa e um alvoroço. Abri a janela do primeiro andar e me reparo com aquela figura pitoresca: usando um chapéu de cowboy e gritando com aquele sotaque gostoso, meio nicaraguense, meio baiano: "Odomirinho!" Ele veio sem avisar! É assim que ele entra na vida da gente. Passamos três dias juntos. Sempre que vinha à Recife, ficava na nossa casa, mesmo sabendo que a hospedagem aqui é muito simples, mas era disso mesmo que ele gostava. Talvez, fosse uma lembrança de sua pobre e pequenina terra natal. Edwind nunca foi de escolher amizade por status social, pelo contrário, sua virtude maior era descobrir, em meio aos ambientes mais inusitados, a recôndita, simples e pura filosofia da vida. E por falar na musa do saber, seus conhecimentos da cultura grega e dos pensadores franceses e alemães era notável. Foi Edwind que abriu meus olhos para o pensamento de Arthur Schopenhauer e Nietzsche. Lia Aristóteles, e encontrava a razão para o mundo pós-moderno, na sabedoria clássica dos gregos. Mas, engana-se quem acha que estou falando de um professor universitário de filosofia. Não, Edwind era cirurgião-dentista! Uma exceção num mundo onde as pessoas se pegam interessadas apenas no trivial, na razão unilateral do conhecimento capitalista. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Hoje, ele se foi. A vida é um quase infinito abrir e fechar de portas. As mesmas que se abriram para que ele deixasse sua pequena Nicarágua e viesse pro nordeste do Brasil, que o conduziram pelo seu tortuoso, quase um passe de salsa, mas suave caminho, hoje se fecharam pela última vez. É o fim do baile, <i>cabrón!</i> Toda festa tem um fim. Valeu, Edwind! Eu estou triste, mas isso passa! Tenho certeza, amigo, que as recordações são fortes e boas! Trouxesses felicidade para o mundo! Agora, vives nas melhores lembranças! Saíste do baile pela porta da frente!</div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-51242872310336329022011-08-20T20:23:00.004-03:002011-08-22T20:22:32.123-03:00Liberdade é DesesperoTu que bradas aos quatro ventos<div>teu primitivo uivo de liberdade:</div><div>Saibas, que te coroam, </div><div>como lúgubres vultos num acanhado espelho sem luz,</div><div>As grades invisíveis do desespero.</div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-71378200881990313682011-08-02T00:52:00.006-03:002011-08-20T20:43:23.788-03:00A Viagem<p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Irineu estava inquieto. Desde ontem não encontrava descanso em seu pensamento, e este estado caótico de suas faculdades mentais, coincidiam, quase sempre, com os momentos que se seguiam a uma viagem de avião. Não sabia por que, mas antes de cada viagem, fazia questão de deixar as contas em dia, não queria deixar nada atravessado. Ia viajar de Recife para Petrolina, apenas uma hora, mas mesmo assim, o angustiava a possibilidade de deixar o mundo num acidente aéreo e as coisas não ficarem claras pra si próprio. Como sempre acontecia nas vésperas das viagens, Irineu repousou na questão de Deus. <o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Era ateu, mas não convicto. O milagre nunca se apresentara pra ele. Levava uma vida sem muitas turbulências, embora fosse professor de literatura, e as leituras clássicas de Poe e Lord Byron sempre o deixavam num estado de perturbação e de investigação sobrenaturais constantes. Então, Irineu passou a se questionar sobre a existência ou não de Deus, discussão que sempre que podia, evitava. “Ora, não tenho conhecimento suficiente, além do mais o universo é indefinido para o homem, não hei de me atormentar com isso.” E assim, sempre desviava da questão central da existência. Mas, estava às vésperas de mais uma viagem de avião, e como sempre, não queria “morrer” deixando dívidas com sua consciência.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Passou a desenvolver uma questão que o entreteu por muito tempo antes de dormir. Imaginou que todos os que creem, retornariam para uma nova vida, algo como o Eterno Retorno de Platão e Nietzsche. Assim, se um egípcio cria em Alá, ao morrer, em algum momento, voltaria, mesmo que na outra vida, viesse a ser cristão, budista ou ateu. A fé seria o passaporte para o retorno. Até o dia em que o homem, alimentado pela razão, atingiria o ateísmo e assim, ao morrer, encontraria, finalmente, o sossego da não-existência. Envolvido nesta idéia, relembrou do conceito de Santo Agostinho de <i style="mso-bidi-font-style:normal">distentio ameni</i>, e que o tempo estaria apreendido em seu espírito e deste modo, com a morte de Deus dentro de si, já não haveria espírito e o ateu encontraria o repouso sem eternidade. Assim, neste divertimento de mediana intelectualidade, adormeceu.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">O voo estava marcado para as seis da manhã, partindo do Aeroporto Internacional Gilberto Freyre. Irineu tomou seu assento no avião bimotor, havia espaço para 24 pessoas e restavam, talvez, duas ou três vagas, apenas. Ao seu lado, sentou-se uma senhora de uns 60 anos, bem vestida. Não travaram conhecimento, talvez um leve aceno de cabeça, quando ela conferiu o número da poltrona e o lugar vizinho ao seu. O avião correu na pista, levantou voo. Mas, não pegava muita altura e tremia bastante. O piloto disse que estava com problemas e ia tentar retornar. Um alarido foi ouvido dentro do pássaro prateado. Ao seu lado, a mulher começara a rezar: “Meu Deus, nos ajude. Ó Senhor, tenha piedade de nós!” As pessoas gritavam, em pânico, enquanto avião passava raspando entre os prédios do bairro de Boa Viagem, tremendo. O pânico se instalara. A mulher tentou se agarrar às suas mãos, abalada, já com lágrimas nos olhos. Irineu pensou em rezar, ou talvez pedir o tão aguardado milagre. Mas, lembrou-se de sua teoria, e num átimo, baixou a cabeça, esqueceu-se da velha e mergulhou na escuridão. <o:p></o:p></p>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-10814645598238011222011-07-27T14:29:00.003-03:002011-07-27T14:33:54.923-03:00O Inverno na Aldeia<a href="http://2.bp.blogspot.com/-_isFlAAn61o/TjBLhpk5ybI/AAAAAAAAAa0/rpsZlNajlu4/s1600/100_1168.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-_isFlAAn61o/TjBLhpk5ybI/AAAAAAAAAa0/rpsZlNajlu4/s400/100_1168.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5634086175308892594" /></a>O Inverno na Aldeia é uma pintura à óleo do artista A. F. Gaush (1873-1947) e se encontra no Museu Nacional do Tartaristão, na cidade de Kazan.Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-4663067723546757422011-07-14T01:54:00.006-03:002011-07-14T12:52:17.988-03:00Sobre a Necessidade de Deus<div style="text-align: justify;">Há exatos dois meses, minha indefinição perante o mundo tem me deixado bastante desassossegado. Estou envolvido num projeto que consiste na análise do pensamento do escritor Dostoiévski e sua relação com o surgimento dos grupos anarquistas, niilistas e terroristas na sua Rússia. Para tanto, vou me aprofundando nas leituras sobre Bielinski, Herzen, Bakunin, Tchernichevski e sobre as atuações de revolucionários como Korokózov e Netcháiev. Dostoiévski e seus amigos eslavófilos, defensores da ortodoxia cristã, combatiam através de seus discursos impressos em revistas e folhetins, a atuação desses grupos radicais conhecidos como a "nova geração", homens da década de 1860. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para Dostoiévski, em linhas gerais, a crença era fundamental para o futuro do seu país. A religião seria o elo que uniria o povo russo e o conduziria a um grandioso futuro, governado pela fé em Cristo. Pausei minha pesquisa por um instante, preparei um copo de chá preto, eram duas da manhã, peguei meu hollywood de menta, e fiquei a meditar na janela do meu apartamento, acompanhado pelo silêncio da madrugada. Da janela, sentia-se a tranquilidade das ruas numa madrugada de quarta para quinta feira. De vez em quando chovia e fazia um clima bastante agradável nesses dias, de maneira que todo mundo estava dormindo no bairro. Havia um imperioso silêncio. Ouvia-se os fortuitos carros a trafegar na rodovia federal, ao longe. Envolto nesta tranquilidade, organizava meu inquieto pensamento. Pensava que a idéia de Dostoiévski é fundamentada numa bagagem histórica muito coerente: a sociedade precisa de Deus. São os mitos que unem os povos, para uns é Cristo, para outros Maomé ou Buda, mas é a divindade que dá sentido os povos. Sem a presença desta entidade mítica, caberia ao homem, sempre falho e egoísta, o papel de assumir o panteão mitológico que uniria um povo. Deste modo, no século XX, Stálin e Hitler, para citar apenas dois nomes, tornaram-se mitos em suas nações, abolindo a idéia de um deus, tornaram-se homens-mitos, e guiaram seus povos para o caminho que todos nós conhecemos. O mito é inevitável.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para Dostoiévski, era Cristo o fim, e a Igreja Ortodoxa, o meio. Para outros, é o socialismo, o anarquismo, o budismo ou niilismo punk. Alguém sempre toma partido por alguma causa. Inquieta-me este voto nulo que confiro às entidades míticas. Não consigo tomar partido de nenhuma causa divina, nem política. Deus se perde na abstração cósmica do universo e nas suas escolhas aleatórias para com os seres humanos. As organizações políticas, por sua vez, pela própria imperfeição humana na concepção e execução de seus projetos estão sempre fadadas ao fracasso, mais cedo ou mais tarde. Poxa, como queria crer em Deus e encontrar a paz! Ou quem sabe, militar nalguma causa política devotamente, onde pudesse enxergar de modo cristalinos as benesses de uma causa positiva para a humanidade. Onde estaria a utopia?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O cigarro já estava na metade, quando o silêncio da madrugada começou a ser rompido por um barulho que crescia de modo progressivo. Era uma moto que vinha em disparada, vrum, vrum, vruuum, as marchas trocavam rapidamente e as lombadas da rua pareciam ser obstáculos menores. Para minha infelicidade, em frente à janela de casa há uma lombada e um cruzamento. A moto diminui sua aceleração e pude ver dois homens se aproximarem sem capacete. O da frente dirigia concentrado, como quem vem numa fuga alucinante. O de trás vinha sem camisa, tinha o corpo moreno e era magro. Possuía um revólver na mão direita. A cena toda, desde a percepção do ruído do motor, não durou mais do que oito, talvez dez segundos. Ao perceber um espectador e a luz acesa da sala, o homem da garupa apontou a arma em direção à minha janela, enquanto eu só tive tempo de me esquivar. Mesmo que ficasse parado, a bala não me atingiria, mas explodiu ruidosamente contra a madeira de cerejeira da janela. Pá! Corri para o meio da sala e apaguei a luz. Escutava ao longe a gargalhada do bandido desaparecendo pela rua, assim como o motor da moto. Fiquei uns dois minutos sentado no chão, no breu da madrugada, com o coração disparado e morrendo de medo. Alguns vizinhos acendiam as luzes para ver o que tinha se passado. Voltei pra janela, havia um projétil encravado na madeira de cerejeira. E agora, devo acreditar em Deus ou no anarquismo?</div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-74650606965592935132011-07-07T21:04:00.004-03:002011-07-14T03:03:05.565-03:00кино<a href="http://3.bp.blogspot.com/-n5KtX507qfs/ThZO2cRZuwI/AAAAAAAAAao/2MSvcrzyNq4/s1600/kino.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 254px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-n5KtX507qfs/ThZO2cRZuwI/AAAAAAAAAao/2MSvcrzyNq4/s320/kino.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5626771481655098114" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Pronto, este é, finalmente, o último dos cinco discos prometidos da série "Holiday in Tatarstan" (na verdade, não tem nome). Poxa Dodô, fosse na Rússia e não postasse nenhum disco de música russa? Pois bem, chegou a hora. Enquanto os outros discos faziam parte da minha seleção (todos estavam no Ipod), esse eu aprendi a gostar durante a viagem. A banda кино (lê-se Kinô, e significa Cinema) foi pioneira no punk rock soviético. Liderada por Viktor Tsoy, compositor e vocalista, o кино recebia as influências do ocidente que entravam pelas fronteiras enfraquecidas da União Soviética e lançava tendência num país onde as pessoas possuíam um nível educacional alto, mas uma qualidade de vida material deprimente. Conversei com a mãe de uma amiga e ela dizia que nos anos 80, durante o inverno, as pessoas comiam durante cinco meses apenas: leite, pão preto, batatas, chá e salsichas. E nada mais! Excepto se alguém plantasse um condimento na varanda dos pequenos apartamentos. É famosa a dureza do inverno.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O кино é respeitado por todo mundo. Nas praças, se um jovem empunha um violão e faz uma roda, logo junta uma rapaziada e, se ele ainda não cantou uma música do кино, a platéia puxa rapidinho. Acho que no Brasil não há referência de popularidade, talvez o Legião Urbana, talvez Raul Seixas. Vou deixar pra vocês o disco clássico deles Ночь (lê-se Nôtch, e significa Noite) de 1986. Eu tenho vários discos deles, mas acho que esse é o melhor. Recordo-me de Tata, uma bela moça que conheci em São Petersburgo cantando "Mama Anarkhia" nas escadas rolantes do metrô após termos bebido duas garrafas de vinho chileno. Outra música marcante é a primeira: Videly Noch, onde em qualquer praça as pessoas cantam e repetem efusivamente o refrão. Espero que gostem, tem muito punk-rock clássico e new wave, bem típico dos anos 80. </div><div><br /></div><div><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 102, 153); font-family: Arial, Tahoma, Verdana, sans-serif; font-size: 22px; font-weight: bold; ">Кино - Ночь: </span><a href="http://www.4shared.com/file/K2GqlZvS/%D0%BA%D0%B8%D0%BD%D0%BE_-_%D0%BD%D0%BE%D1%87%D1%8C.htm">http://www.4shared.com/file/K2GqlZvS/%D0%BA%D0%B8%D0%BD%D0%BE_-_%D0%BD%D0%BE%D1%87%D1%8C.htm</a> </div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-67300117571479617412011-06-28T22:51:00.006-03:002011-06-29T10:47:30.090-03:00The Earth is Blue<div style="text-align: justify;">Eu tinha planejado estudar o dia todo hoje. Aliás, o plano ainda não foi abandonado. Se escrevo aqui é para me livrar de um pequeno fantasma que me aparece entre as páginas do livro de Joseph Frank. Um fantasma com rosto de anjo e que fez um grande reboliço neste coração velho. Talvez eu deva contar um pouquinho desta íntima história.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No dia 12 de abril de 1961, o cosmonauta russo, Yuri Gagárin, numa pequena lata de ferro, com uma janelinha de observação, pôs seus miúdos olhos na janela e se espantou com a figura de nossa grande mãe vista de longe. Ele viu o sulco dos rios cortando a terra, as fazendas e montanhas, e disse, poeticamente: "A Terra é azul". No dia 12 de abril de 2011, cinquenta anos após Gagárin, eu saía de uma palestra na faculdade de economia e business, INEKA, e conheci uma das moças da platéia, K. C., e sem saber muito o que conversar diante dos seus olhos azuis, perguntei, como um tolo, se ela estava feliz com o cinquentenário da ida do cosmonauta russo à órbita. E a Terra passou a ser azul pra mim também.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Hoje, ela me mandou uma foto no jardim, em pleno verão do hemisfério norte. E lá se </div><img src="http://2.bp.blogspot.com/-XBgUOyvka6w/TgqPJ7BCEDI/AAAAAAAAAag/LjuD0iyhZRA/s320/Damon%2B%2526%2BNaomi%2B-%2BThe%2BEarth%2BIs%2BBlue%2BF%252B.jpg" style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 285px;" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5623464485349101618" />foi meu plano de estudar o dia todo... Como prometido, vou deixar o quarto disco dos cinco que marcaram a viagem: Damon and Naomi: The Earth is Blue (2005). Coincidência, ou não, era nosso álbum favorito. Não me permito falar muito mais, em respeito ao inefável e à esperança. Destaco as canções "second life" e a versão linda de "Araçá Azul" de Caetano Veloso. Após dividir essa angústia distante com vocês, vou tentar voltar aos livros, mergulhar no sonho outra vez, assim a nave vai...<div style="text-align: justify;"><br /></div><div>Damon and Naomi - The Earth is Blue (2005): <a href="http://www20.zippyshare.com/v/32159177/file.htm">http://www20.zippyshare.com/v/32159177/file.htm</a></div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-47209140989768606612011-06-28T14:32:00.002-03:002011-06-28T14:44:42.106-03:00Notas Sobre a Pobreza<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ontem, eu assisti a propaganda do Governo Federal: “num sei quantos milhões deixaram a pobreza. Nossa próxima meta é extirpar a miséria.” Assim, a miséria está colocada num patamar acima da pobreza, restando à segunda opção, o posto de maior flagelo da humanidade. É onde eu gostaria de questionar essa imagem desestimuladora da pobreza, que a meu ver, molda muitos comportamentos dentro da moral e da ética do povo brasileiro. <o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A Rússia, em linhas gerais, apresenta uma população mais pobre que a brasileira. Lá, 90% da riqueza do país, se encontra nas mão de apenas 3% da população. São magnatas, homens-fortes do gás e do petróleo, membros do governo e ex-poderosos da KGB. Mas, o cidadão-comum, este sofre pra sobreviver. Vou dar um exemplo que ocorreu comigo: morei na casa de uma família que constava de quatro membros, todos adultos, e que trabalhavam oito horas por dia para conseguirem se sustentar. E mesmo com todos trabalhando, comer carne era um luxo dedicado aos finais de semana. E não era maminha, ou picanha, mas linguiça e outras carnes menos nobres. O cogumelo fritado substituía a iguaria animal, pois era bem mais barato. Mas, numa sociedade mais pobre que a nossa, de acordo com as leis econômicas, a violência deveria ser maior, uma explosão de saques e de banditismo. Mas não, mesmo a Rússia sendo pobre, durante os três meses que estive lá, não fui assaltado, e mais, nunca escutei relatos de amigos ou de conhecidos que reclamariam a perda da carteira, do carro, do celular, do dinheiro sacado no banco. Quando íamos para um barzinho e bebíamos até às duas da manhã, eu oferecia para uma amiga o dinheiro para que pegasse um táxi, pois não seria seguro para uma jovem dama caminhar sozinha na rua, pela madrugada. Ela me retrucava: “ora, deixe disso, não tem perigo.” No Brasil, principalmente em Recife, não dá pra imaginar uma cena dessas.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Aliás, falando em cena, semana passada, enquanto estava preso no engarrafamento da Avenida Caxangá, presenciei a chegada de dois homens numa moto Titan 125 preta, à minha frente tinha um Fiat Uno, daqueles antigos, verde-escuro. O carro estava encurralado pelo engarrafamento e pela parada de ônibus do lado esquerdo. O motoqueiro ficou observando a situação e dando cobertura, enquanto seu comparsa desceu com um revólver preto, numa atitude rápida e agressiva, empurrou a arma contra a têmpora do motorista. Eu estava no fusca com a maioria dos meus pertences de valor: computador, mala com roupas e o próprio fusca. Não tenho muita coisa mesmo. O motoqueiro olhou para mim para se aperceber do meu comportamento, se eu estaria anotando a placa ou coisa parecida. Baixei a vista, ainda assustado pela possibilidade do segundo ataque, mas os bandidos fugiram na moto. Foi um minuto de respiração suspensa e adrenalina nas alturas. Mas, não é o assalto em si, o tema desta postagem, mas saber até que ponto a pobreza é motivação para o crime. Duvido que aqueles bandidos estivessem passando fome. O ladrão brasileiro rouba pra ostentar, pra demonstrar poder numa terra sem lei. Na sua favela, ele é o cara, manda e desmanda, e rouba pra ter mais, não pra suprir a necessidade alimentar. Ele rouba pra comprar droga ou uma camisa de marca, jamais para comprar feijão, por exemplo.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Aí entra um pensamento meu, que não é baseado em teorias ou pesquisas, o que pode até enfraquecer minha idéia, mas é a questão que o brasileiro tem vergonha da pobreza. Mesmo algumas pessoas mais pobres, <span style="mso-spacerun:yes"> </span>gostam de ostentar certa imagem de importância, escamotear sua real situação. Na Rússia, as pessoas não tinham vergonha nenhuma em se assumirem pobres. Tive um rápido relacionamento com uma garota (só passei 3 meses lá) e a sua pobreza nunca foi motivo de vergonha, nem de empecilho, nem de qualquer obstáculo à sua nobreza de caráter. A miséria é deprimente, mas a pobreza chega a ser bonita em sua simplicidade. Conversando com meus amigos, Bebeto e Karuna, discutíamos sobre as aspirações financeiras para o futuro. Ter dinheiro para viajar é uma das maiores satisfações da vida, mas eu confessei pros meus amigos que tinha medo de ter muito dinheiro, porque a pobreza te mantém humilde, e este sentimento de humildade é uma das maiores riquezas espirituais possíveis. É lindo quando nos deparamos com uma pessoa muito rica, que não se envergonha de conviver com pobres, ajudar e participar de seu cotidiano. Mas, possuir uma grande quantidade de dinheiro, te deixa desconfiado dos que te rodeiam, te põe numa defensiva paranoia em relação às amizades e a sensação de poder experimentada pode, quase sempre, te levar à arrogância para com os irmãos. <o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eu me considero pobre, mas tenho casa própria e um fusquinha, me divirto uma vez por semana, mas sou pobre. É preciso que haja a distinção entre a miséria e a pobreza, e que a segunda deixe de ser uma doença social ou um crime, e passe a ser enxergada com uma riqueza espiritual mais abrangente. Ser pobre é ter o básico. Mas, nosso mundo consumista quer nos empurrar para a catástrofe da competição, que coloca a pobreza no mais deplorável dos estados humanos, estimulando os homens a obter, a qualquer custo, a riqueza material dos seus semelhantes. O Brasil precisa ser, moralmente, repensado.<o:p></o:p></p>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-6697625592971744462011-06-27T16:17:00.002-03:002011-06-27T16:23:44.667-03:00Vininha, Velho Saravá<a href="http://2.bp.blogspot.com/-NqGiYzeOQ8g/TgjYbANzSuI/AAAAAAAAAaQ/f1nN4XCV01I/s1600/vinicius_toquinho.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 312px; height: 320px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-NqGiYzeOQ8g/TgjYbANzSuI/AAAAAAAAAaQ/f1nN4XCV01I/s320/vinicius_toquinho.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5622982093198019298" /></a><br />Este é o terceiro disco da série de cinco que prometi postar. Não farei muitos adendos pra não ser repetitivo. Mas, esse "disquinho" de 1974 é uma jóia, todas as composições são agradáveis e com aquela majestade boêmia que os autores constroem, como ninguém. <div><br /></div><div>Aqui em mim, está tudo bagunçado, como sempre. Como é duro trabalhar! Mas, no disco, tudo na mais perfeita ordem, tudo na mais santa paz.</div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div>Vinícius & Toquinho (1974): <a href="http://www.4shared.com/file/92202933/831ed801/1974_-_Vinicius__Toquinho__Philips_.html">http://www.4shared.com/file/92202933/831ed801/1974_-_Vinicius__Toquinho__Philips_.html</a></div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-7973749459810809292011-06-12T17:32:00.005-03:002011-07-12T12:36:28.194-03:00É Muita Chinfra!<a href="http://3.bp.blogspot.com/-6d4l0sIJbvw/TfUpUhfJKCI/AAAAAAAAAaE/BkgYbmw6EI0/s1600/Trio_pouca_chinfra.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 213px;" src="http://3.bp.blogspot.com/-6d4l0sIJbvw/TfUpUhfJKCI/AAAAAAAAAaE/BkgYbmw6EI0/s320/Trio_pouca_chinfra.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5617441542777677858" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Eu prometi postar cinco discos que marcaram meus 3 meses na Rússia, pois bem, com um tanto de atraso vou tentar cumprir minha promessa. Ouvir música faz parte do meu viver, como se fosse uma trilha sonora constante de tudo o que faço. Escuto música até pra estudar, pois creio que a música barroca ajuda, tanto quanto um copo de café, na concentração. Hoje, dedico meu segundo disco da série Viagem à Rússia (calma, eu sei que parece que vou viver de um eterno efêmero passado) ao Trio Pouca Chinfra e a Cozinha, grupo de samba de Recife. O mais recente álbum da Chinfra (2010), é uma das melhores pérolas da música recente do Brasil, e confesso que sinto um tantinho de orgulho do sucesso da rapaziada e vou explicar o por que:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não tenho muita certeza de qual ano foi fundado o citado grupo de samba, mas minha primeira lembrança do nome Pouca Chinfra foi quando meu velho amigo Carlos "Cacau" Holanda, me convidou pra um sambinha na cachaçaria da Rua da Moeda, Recife Antigo, por volta de 2005. Dizia ele: "Dodô, meu irmão Dedeco, tá tocando num grupo de samba que toca vários covers dos Demônios da Garoa, vamo nessa!" E fomos. Bem, das primeiras lembranças o que fica era aquela impressão de que tudo era improvisado e bagunçado, mas muito legal, levado no peito e na raça. Aos poucos, a pequena cachaçaria ficou pequena pra tanta gente que se espremia naquele calor infernal. Sempre com muita gente bonita acompanhando os shows, a Chinfra foi pro primeiro andar do Pina de Copacabana e, pra variar, casa lotada todas as sextas. O negócio começava a ficar sério e a rapaziada também começou a caprichar nas notas e na percussão. Bem, daí pro sucesso na cidade inteira foi um pulo. Hoje, eles apresentam este disco que vou deixar no final desta postagem pra vocês, muito bem elaborado, com letras inteligentes e uma jovialidade muito boa.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esse disco do Pouca Chinfra me faz lembrar dois momentos em que o escutei enquanto estava na Rússia. O primeiro foi quando eu estava em Chelny, no Tartaristão. Era uma noite de segunda, estava na transição do inverno pra primavera, fazia -2 graus e eu não queria ficar em casa. Peguei o Ipod e decidi comprar cigarro e uma cerveja, enquanto dava uma volta pela vizinhança. Cheguei no mercadinho e pedi um Marlboro e, envolto na brasilidade da música, esqueci de pronunciar como os russos, ou seja, Marlbara (a letra O em russo, quase sempre tem som de A). A mulher disse que não tinha esse produto. E eu mostrava, "olha ele alí, olha ele alí". Pronto, um cigarro e uma Heinekken de meio litro. Caminhei pelo bairro da Zyab naquele frio e como me sentia próximo do Recife ao escutar a voz do meu amigo José "Macaco" Demóstenes. Poxa, chegava a ficar com olhos marejados ao me lembrar que desde o comecinho, naquela bagunça da cachaçaria, o Pouca Chinfra fazia, agora, um disco tão bonito, que merece ser escutado por todo mundo. A segunda lembrança foi mais alegre, estava caminhando na Avenida Niévski em São Petersburgo, distribuindo sorriso para as beldades que passavam, cheio de auto-confiança. Destaco as músicas "traseirando", "carmelita", "rainha da bateria" e "finarmente". Não duvide, meu caro, minha cara, você pode encontrar boas letras no cenário atual!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><a href="http://www.poucachinfra.com/blog/discos">http://www.poucachinfra.com/blog/discos</a></div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-71041221429257006752011-06-09T02:42:00.001-03:002011-06-09T02:42:58.997-03:00Os Negros da Oficina<p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Certas imagens que fazem parte do nosso passado se perdem na trivialidade da rotina, mas hoje, ao conduzir meu velho Volkswagen 78 para a biblioteca da universidade, observei naquela rua de barro, cheia de buracos, que o chefe da oficina que fica há dois quarteirões da minha casa e que funciona desde que me entendo por gente, estava velho, de cabelos brancos, e circundava uma Brasília antiga, meneando sua velha carcaça, buscando soluções. Hoje ele trabalhava sozinho, era manhã alta, umas 9 horas, os seus irmãos deveriam se juntar ao trabalho em breve, talvez estivessem dormindo ou não houvesse, simplesmente, trabalho. É uma oficina mecânica familiar, composta por três irmãos, negros fortes.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Durante muitos anos, aquela rua onde os irmãos da oficina trabalhavam, com seus carros velhos, a roupa suja de graxa, a casa escondida entre os pés de acerola e pitanga, com suas esposas e filhos a circundarem a garagem da oficina, a música de Roberto Carlos no começo de noite de domingo, representava pra mim um local de segurança em nosso bairro assombrado por bandidos espertos. Sempre que voltava da faculdade, tarde da noite, entrava naquela rua mal iluminada, apenas por confiar que naquela casa existiam homens fortes e valentes, que nenhum ladrão ou bandido consentiria em traquinar numa rua onde aqueles trabalhadores faziam a defesa do território. Eles eram os paladinos do bairro.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Minha visão sobre os negros da oficina tem uma explicação: quando eu era criança, meu pai tinha um pequeno comércio, que infelizmente, nunca deslanchava, mas estava sempre aberto no horário comercial. Passava as manhãs de férias com meu pai e, numa daquelas bem quentes de um dia qualquer, ouvimos um alarido na rua do lado. Uma gritaragem, um escarcéu provocado por uma voz feminina: ladrão, ladrão! O meliante tinha fugido com a bolsa e o relógio da mulher. Meu pai, sempre curioso com esses casos, precipitou-se pra rua e ordenou-me ficar tomando conta do pequeno comércio. Não tive dúvidas, desobedeci e fui atrás do velho. Quando dobrei a esquina, avistei o ladrão caído no chão a ser aporreado, como um cavalo atropelado na estrada é degustado pelos urubus, pelos negros da oficina. O ladrão ficou caído no chão, a polícia foi chamada. Os pertences da mulher foram restituídos. O bandido foi-se no camburão. A população agradecia aos irmãos mecânicos. Eles foram os heróis de uma manhã monótona no subúrbio do Recife.<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Minha mãe, mesmo depois de crescido, sempre me orientava: “Vá pela rua da oficina que é mais segura.” Involuntariamente, faço este percurso, como o fiz hoje, embora os negros da oficina já estejam velhos, de cabelos brancos e não se acordem mais tão cedo pra trabalhar.<span style="mso-spacerun:yes"> </span><o:p></o:p></p>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-54280345294311610612011-04-13T16:39:00.003-03:002011-04-13T17:02:40.818-03:00Sleeping with Ghosts<a href="http://2.bp.blogspot.com/-FwHRfBA6fFc/TaYBTm4zpnI/AAAAAAAAAZY/CjUPTaIarx0/s1600/cover-242219.jpg"><img style="MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 300px; FLOAT: right; HEIGHT: 300px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5595161023422375538" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/-FwHRfBA6fFc/TaYBTm4zpnI/AAAAAAAAAZY/CjUPTaIarx0/s320/cover-242219.jpg" /></a> <br /><div align="justify">Hoje eu começo a postar uma série de cinco discos que são a trilha sonora desses meus últimos meses. Peço perdão a quem costuma visitar o blog, mas nesses três meses de Rússia não tenho tido tempo para refletir. Até as leituras estão deficitárias. Comprei três livros e acho que só <em>Palomar</em> de Italo Calvino vai voltar pro Brasil com o carimbo de finalizado. A boa notícia é que estou falando russo muito bem, quer dizer, falo de tudo, mas gramaticalmente ainda erro bastante. O russo não é uma língua fácil. Bem, mas esse não é tema da postagem. Na verdade, por falta de assunto e de tempo para refletir, quero dividir alguns discos com vocês que, de certa maneira, estiveram comigo nesses últimos meses. Para começar, escolhi esse do Placebo. Acho que foi o disco que mais ouvi no Ipod. Um disco cheio de energia, de arranque e de chegada. Talvez o melhor disco do Placebo, certamente o mais jovial e agressivo. No meu segundo dia em Naberezhnye Chelny, resolvi fazer uma caminhada inóspita. Andar do shopping Torgovyi Kvartal até meu apartamento, apenas 40 minutos, nada de impossível se não fosse a temperatura de menos 36 graus no termômetro oficial da Prefeitura. Era cinco da tarde e já estava escuro, muito escuro, um vento malvado queimava o pequeno pedaço de pele que ficava descoberto que ia da metade da testa até o queixo. Ardia, ardia demais. Eu usava duas calças e uma cueca e os testículos doíam como se quisessem buscar abrigo dentro do corpo. Os ossos da perna caminhavam cada vez mais rápido para se aquecerem. Na verdade, eles tremiam. Mas, eu estava decidido a enfrentar o frio. Quando li <em>Senhores e Servos</em> de Lev Tolstói, me inquietava desconhecer aquele frio assassino que fustigava os homens no alto inverno russo. O corpo dóia, a pele do rosto ficava dura e enrugada. "Mas mesmo assim eu vou, eu vou." E me embalava esse disco do Placebo, uma música decidida, triste e raivosa como a aparência do inverno. E cheguei em casa, quarenta minutos depois, e pensei: que discaço! E passei a escutá-lo com frequência. Taí o recado, quem quiser baixar, segue o link abaixo:</div><br /><div></div><br /><div><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes"></span>http://www.4shared.com/file/250045058/301ac77/Sleeping_With_Ghosts__2003_.html<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></span></p></div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-17386759421217984862011-03-31T11:02:00.003-03:002011-03-31T11:14:27.177-03:00Sossuil'ka<a href="http://3.bp.blogspot.com/-MF9yF45IJUE/TZSKLSKraUI/AAAAAAAAAZQ/yYi2IFjzoc0/s1600/100_0324.JPG"><img style="MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 400px; FLOAT: right; HEIGHT: 300px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5590244963933448514" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/-MF9yF45IJUE/TZSKLSKraUI/AAAAAAAAAZQ/yYi2IFjzoc0/s400/100_0324.JPG" /></a> <br /><div><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="LINE-HEIGHT: 115%;font-family:'Times New Roman', 'serif';" >Oficialmente, estamos na primavera há mais de uma semana. Mas aqui, na Rússia, o inverno é forte e tarda a findar. Um amigo me escreve da cidade de Colônia, na Alemanha, e anuncia que a primavera é linda e que de dia, aconchegantes quinze graus são sentidos no caminhar pelas ruas ensolaradas da primeira semana da primavera. Aqui, ainda agora enquanto escrevo, neva. Aliás, desde que o tempo esquentou, neva quase todos os dias. Quando fazia -36 graus, no final de fevereiro, não nevava, aliás, nada caía do céu, apenas a secura intolerável do ar que queimava a pele com rudeza e obstinação. Mas agora, é tempo de transição, de meio-dia faz +3 e de noite -3, e nesse esquenta-esfria, também o gelo entra na dança e se mostra através da Sossuil’ka.<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></span></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="LINE-HEIGHT: 115%;font-family:'Times New Roman', 'serif';" ><o:p></o:p></span></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="LINE-HEIGHT: 115%;font-family:'Times New Roman', 'serif';" >A Sossuil’ka é uma espécie de estalactite de gelo facilmente encontrada em qualquer telhado de qualquer cidade russa. É resultado do derretimento do gelo quando o sol aparece de dia e do esfriamento do tempo, do fim da tarde até a manhã seguinte. Surgem belíssimas formas de estalactites penduradas sobre os telhados. As crianças adoram chupar Sossuil’ka. Mas, a palavra de nome inofensivo, amiga das crianças, é, na verdade, um grande perigo aos moradores das cidades. Enquanto andamos preocupados olhando para o chão, com medo de levarmos um escorregão nas placas de gelo que ficam sobre a calçada, a Sossuil’ka está sobre nossas cabeças, muitas vezes tomando proporções inimagináveis. Na semana passada, na cidade de Tver, uma senhora estava sentada num banquinho de praça quando uma imensa Sossuil’ka caiu do telhado de um prédio e lhe afundou o crânio. A pobre senhora faleceu na hora.<o:p></o:p></span></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="LINE-HEIGHT: 115%;font-family:'Times New Roman', 'serif';" ><o:p></o:p></span></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="LINE-HEIGHT: 115%;font-family:'Times New Roman', 'serif';" >Esse mês de abril será um mês de mudanças profundas no cenário russo. O gelo, finalmente, vai derreter e dará espaço para o tímido surgimento dos primeiros brotos nas árvores, já pela última semana de Abril. Amanhã inicia-se o mês e ainda temos temperatura abaixo de zero, temos muita mokra (lama), neve e Sossuil’ka. Mas, ao final do mês, teremos o renascimento do verde e a ampliação dos dias. Quando cheguei aqui no Tartaristão, o sol se punha às 15:45, hoje ele se põe depois das 18h, isso num intervalo de um mês e meio. No começo de maio, os dias findarão mais tarde, o sol se porá às 22, 23 horas. É no final de maio que teremos as famosas Noites Brancas em Petersburgo. Pena que não estarei mais aqui. Minha passagem pela Rússia é curta, como a Sossuil'ka,’mas espero que perene, e que eu cá esteja noutra oportunidade. Estou planejando uma última viagem pela Rússia. Tenho medo do dinheiro não ser suficiente, mas mesmo assim eu vou. A viagem se iniciará em 18 de abril, saindo daqui de Naberezhnye Chelny e indo pra belíssima cidade de Samara, onde pretendo ficar uma semana. No dia 24, pego um trem para o norte, ainda não me decidi pra onde, mas meu coração chama por Velikyi Novgorod, a cidade mais antiga de todas as Rússia. Lá, posso encontrar lindos conventos e monastérios. A cidade é conhecida como a capital ortodoxa da Rússia. Novgorod é caminho para São Petersburgo, onde já tenho hospedagem na casa de uma amiga entre 30 de abril e 5 de maio. Após isso, posso ficar mais dois dias na capital de Pedro ou partir para o centro do país, em direção à Moscou, ao fim da viagem, à volta pro Brasil, ao derretimento final deste sonho, Sossuil’ka.<o:p></o:p></span></p></div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-39237177038506075572011-03-09T02:26:00.003-03:002011-03-09T02:34:07.458-03:00A Volta de Kazan<span style="font-family:Calibri;">Nevou, insistentemente, durante todo o fim de semana em que estive em Kazan. As ruas se cobriram de um branco novo, recém-chegado dos céus. Mas, é fim de inverno, a neve é molhada, quente, pedindo pra virar chuva, e transforma as ruas da cidade em deslizante lamaçal. Ainda assim, para o olhar de um nordestino, tudo se afigura em novidade e deleite por um inverno antes apenas imaginado. As calçadas se cobrem, ora de uma tímida camada escorregadia de gelo, ora de um fofo tapete branco, e a milenar cidade se traveste de sonho, moldando suas arquiteturas na onipresente neblina.<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></span> <div><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">As cidades são corpos imensos, e como corpos, movem-se pela presença de um espírito, a alma da cidade. A alma de Kazan, se posso me arriscar a conhecer apenas por ter visitado por três dias em que a mesma se encontrava debaixo do branco véu, é harmoniosa. Diferente de Moscou, não possui tanto tráfego, multidão apressada, minhocas de aço a amaciar suavemente o subsolo de sua morada. Kazan é grande e pequena, naquilo que os adjetivos podem alargar de mais positivo. Ao andar por suas ruas, meu coração palpitou, assanhado, que aquele era o lugar desejado pra se viver por um bom tempo. Mas, em respeito à atmosfera onírica da capital tártara, vou-me embora antes que a realidade desfaça o sonho, e já escrevo de um ônibus velho que, cambaleante, atravessa o sertão gelado da minha solidão.<o:p></o:p></span></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Entrego minha vida às mãos de um motorista pitoresco, com os dedos da mão direita tatuados, provavelmente indicando que o mesmo fez/faz parte dessa ou daquela máfia russa. O homem nã<a href="http://1.bp.blogspot.com/-abqDQotPbqU/TXcQMojp6tI/AAAAAAAAAZI/-p3dxTztrrw/s1600/100_0530.JPG"><img style="MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 400px; FLOAT: right; HEIGHT: 300px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5581948072380459730" border="0" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/-abqDQotPbqU/TXcQMojp6tI/AAAAAAAAAZI/-p3dxTztrrw/s400/100_0530.JPG" /></a>o tinha sequer um dente natural, todos de prata. Imaginei que aquele homem, talvez, tenha perdido os dentes numa briga de gangues e se afastara da vida bandida e hoje era motorista de ônibus, entre Kazan e Naberezhnye Chelny. A idéia se esvaiu quando tive que concordar com o sujeito, em seu prateado sorriso, que Pelé e Ronaldo eram brasileiros. Eu já estava dentro do ônibus velho, sentado ao lado de uma babushka espaçosa, torcendo pra que o motorista pitoresco fizesse as curvas mais devagar naquela pista alva e escorregadia. Lá fora, árvores sem vida, campos sem grama, a natureza hibernante e silenciosa. Aqui dentro, uma multidão quente de cidades, lembranças, soluços. E tudo o que escrevo é um inatingível esforço pra construir uma imagem perdida, marejada, de um intraduzível presente.<o:p></o:p></span></p></div>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8551183931851433185.post-63546302595262886382011-03-02T06:22:00.000-03:002011-03-02T06:23:49.321-03:0012 dias<p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Após doze dias na Rússia, hoje pela manhã, tive a gratificante surpresa de me deparar com uma neve fininha, quase como uma garoa de algodão. As ruas cobertas de um veludo branco vislumbraram-se mais bonitas. Vinícius de Morais e Toquinho no ouvido e não havia habitante mais feliz naquela cidade tão óbvia. Escrevo de um shopping. Nunca frequentei tanto esse espaço na vida, como aqui na Rússia. É difícil ficar mais do que 30 minutos caminhando na rua. Os primeiros dez minutos são agradáveis, mas a constância do frio maltrata a pele.Acordei cedo pra ir na rodoviária comprar minha passagem para a antiga cidade de Kazan, capital do Tartaristão. Kazan é um cidade de longa história e tradição. Todos dizem que é uma cidade muito bonita, diferente da cidade em que vivo, Naberezhnye Chelny. <?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Naberezhnye Chelny é uma cidade projetada na era soviética. É uma imensa COHAB. No período soviético chamava-se Brezhnev. A cidade é dividida em complexos, todos com quatro, cinco ou seis prédios, todos iguais. Apesar de não ser uma cidade grande, tem quase 600 mil pessoas, mas eu me sinto mais perdido aqui do que em São Paulo ou Rio de Janeiro, por exemplo. As ruas são todas iguais e os prédios também. A única construção que se destaca na paisagem é a torre de negócios chamada Tubiteika, que para minha imensa sorte, fica do lado do apartamento onde<span style="mso-spacerun: yes"> </span>moro, então sempre me posiciono pela torre. Como a cidade não oferece atrações turísticas, devido à obviedade de sua existência, quando as pessoas me encontram na rua, me transformo num estrangeiro numa cidade de interior. Desta constatação, resultam duas possibilidades: ou as pessoas são muito amáveis, ou são chatas e mal-educadas. Na grande maioria das vezes, as pessoas são extremamente gentis e bem educadas, apenas um bêbado ficou gargalhando comigo quando me escutou pedir uma água mineral num barzinho perto de casa. Sua risada era provocadora e ele queria confusão. Mas, cá entre nós, a última coisa que quero num país distante é parar na polícia por causa de briga, coisa que nunca aconteceu nem no Brasil. Deixei passar. Para se ter uma idéia da excentricidade que minha estadia aqui representa, anteontem, concedi uma entrevista para a TV local! Eles queriam saber o que um brasileiro estava fazendo em Chelny, porque escolheram aquela cidade que nenhum estrangeiro escolhe. Contei um pouco da minha vida pra eles. <o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Tenho muita vontade de ficar aqui na Rússia, mas não em Chelny. Vou terminar meu estágio de dois meses e já estou correndo atrás de algum emprego em algum lugar. Gosto do frio, gosto do inverno, das pessoas. Meu russo melhora a cada dia, progressivamente. Tinha medo de não me adaptar ao clima, mas já me sinto triste pelo ocaso próximo do inverno. É muito gostoso andar aquecido no frio, as noites de sono são pacíficas e sem pesadelos. A maior dificuldade é andar. No meu segundo dia eu levei quatro quedas na rua. Há 8 dias eu não caio porque aprendi que em certos trechos não se deve andar, mas patinar. Se quiser andar com dureza, certamente vai cair. O caminhar tem que ser leve e escorregadio. As coisas aqui são mais baratas que no Brasil, mas só aqui em Chelny. Em Moscou, tudo foi muito caro, desde a compra de um chapka (chapéu típico de inverno) até os lanchinhos numa cafeteria. Às vezes, bate uma tristeza, mas é normal. Não é tristeza de saudade, ainda, mas é uma solidão de algo inexplicável, talvez a falta de alguém que aqueça o coração. Não sei. Paro por aqui, esse foi meu 12º dia, é bom escrever em português porque até quando sonho tem sido em língua estrangeira, só falo inglês e russo, o tempo todo. Sem mais, um abraço a todos e vamos trocando notícias.<o:p></o:p></span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:Calibri;">Do Zvedanya, druz’ya!<o:p></o:p></span></p>Dodô Fonsecahttp://www.blogger.com/profile/06733008689729425955noreply@blogger.com0