segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Vida Após a Morte

Tem dias que a desilusão apossa-se do nosso espírito, prostrado diante de tantas inexplicáveis respostas, da incerteza do futuro e do iminente e inevitável contato com a morte, perguntamos a nós mesmos: Para quê viver? Qual a função do trabalho se numa seqüência rápida de algumas dezenas de meses, estarei soterrado pelo que me sustentava? O que motiva uma mente dotada de força poética a questionar esta finitude? O filósofo alemão Arthur Schopenhauer dizia que a morte era a musa da filosofia! O poeta, mortal, perdura na espécie, na futura geração que o lerá e o consagrará. O que nos motiva a viver neste tão curto intervalo que nos é oferecido é a possibilidade de alargar, imortalizar a espécie humana, onde cada um de nós oferece, como voluntariosas formigas, sua carga de experiência.

O escritor e poeta russo Igor Volguin, presidente da Fundação Internacional Dostoiévski, sugeriu em palestra realizada no dia 01 de dezembro de 2009, que o Mestre de Petersburgo nunca poderia imaginar que no início do século XXI, tantos congressos e palestras fossem proferidos para debater sua obra. Ele que passou toda a vida com dívidas e lutando para sobreviver, é, há muito tempo, um sucesso de vendas em todo o mundo e motivo de discussão e inspiração para todos que o lêem. Para o crítico Harold Bloom, o grande escritor/poeta só faz crescer com o tempo:

“A força desses fantasmas – que é sua beleza – aumenta na medida em que a distância do poeta concorrente cresce no tempo. Homero, um poeta maior no Iluminismo do que foi entre os helenos, é ainda maior agora em nosso Pós-Iluminismo.”

A influência poética, diz Bloom, é uma luta pela Eternidade, ou seja, o autor quer prolongar sua existência nos textos escritos. Quando Schopenhauer profere que a morte é a musa da filosofia, está sugerindo que o poeta/filósofo tem consciência de sua curta jornada, mas sua projeção na continuidade da espécie humana o motiva a pensar num tempo muito mais abrangente que sua vida natural. Assim, o grande escritor vive noutra geração que o deslê, como diz Bloom, e o revive noutra linguagem adaptada à outra realidade de outro presente, adiante.

Esta influência não se demonstra necessariamente na manutenção da linguagem, mas principalmente, no universo das idéias, da experiência. Quando fazemos uma leitura de Montaigne, nos surpreendemos, de início, com a incalculável quantidade de citações que o escritor da Gasconha apresenta de textos antigos, da retórica clássica. O universo clássico povoa sua visão do século XVI, servindo de suporte para sua interpretação do presente. Assim, a tradição/influência de Sêneca, Virgílio, Teócrito, Cícero, Lucrécio e outros, mantêm-se viva através de centenas de anos, sobrepujando inclusive, a consistência do granito, do mármore e do concreto. O pensamento mostra-se mais forte que qualquer monolítico monumental, e o poeta torna-se perpétuo em seus versos, mesmo contra sua vontade: salve o desobediente Max Brod!

2 comentários:

JOSÉ RAFAEL MONTEIRO PESSOA disse...

Eu (sem dúvidas) não conseguiria explicar melhor. Logo, assino embaixo.

Dodô Fonseca disse...

Caso alguém não saiba, Max Brod era o amigo de Kafka que desobedeceu seu pedido derradeiro, no leito de morte, que queimasse toda a sua obra e suas anotações. Brod, ao contrário, as publicou. E nós vivemos com Kafka.