domingo, 4 de janeiro de 2009

La Tristeza... Me Encanta

Nesse início de ano, num momento de otimismo e adoração aos deuses do futuro, eis que resolvo escrever uma pequena nota sobre a tristeza, sentimento adubado pelos acontecimentos da vida, respaldado pela razão e a loucura, de fronteira transparente entre o ódio, o amor e a indiferença. A tristeza é paradoxal em seu íntimo, quase sempre solitária em sua física, simultânea em sua filosofia. Uma ode à tristeza é o que proponho. Gostaria de externar minha afetividade àqueles que souberam laborar em seu tortuoso recinto, transformando em arte toda a força criativa que se engendra deste sentimento.

A melancolia nos assalta o espírito, mesmo quando não há razões para tal, mesmo que nossa vida seja agraciada, o derredor sempre nos abastecerá de amarguras. Particularmente, nesse momento, não tenho do que me queixar da vida. Porém, é-me impossível ficar indiferente à beleza da dor, do trepidar da carne do pecado, do arrepio da débil brisa que sussurra de dentro dos ataúdes.

Como diria Lukács, a alma é mais vasta e mais larga do que todos os destinos que a vida pode lhe oferecer, e sê inteiro na ventura é alargar-se escassamente neste manancial de possibilidades que é a vida. Por isso, me encanta penetrar no cerne da tristeza, onde é preciso a aproximação e o estudo, pois, ela é insensível ao longe. A morte de Jesus Cristo, seu sofrimento e martírio, nos forneceram imagens fascinantes no universo das artes. Certa vez, um jovem de quinze anos se aproximou de nosso profeta russo e perguntou-o o que seria necessário para ser um grande escritor. O mestre, resumidamente, disse: “É preciso sofrer.” Um sofrimento que não se resume ao corpo, talvez este seja o menor, mas algo muito maior, transcendente e espiritual.

Gostaria de terminar agradecendo aos grandes mestres da reflexão, aos que enxergam a beleza num vale de lágrimas, fascínio no apocalipse, abrigo na desordem. Em uma de suas crônicas da década de 1890, Machado de Assis deixa escapar: “Não é a tempestade que me aflige; é o enjôo do mar.” Ao final, a idéia de escrever sobre a tristeza partiu das músicas de Nick Cave e Belchior, mesmo reconhecendo que vários outros artistas, em outros campos da arte, também nos estimulam. Lembrando que a tristeza é a mola propulsora da alegria, desejo-os um feliz ano novo, meus queridos visitantes.

3 comentários:

Anônimo disse...

:~~

Anônimo disse...

"É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

Mas, pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza..."

Postagem inspiradora, Dodô!

Unknown disse...

q fantástico amigo, claro, honesto, belo, como diz um amigo nosso, caríssimo: sad songs makes me happy.
Faltou
Sigur Ròs, Jonnhy Cash, Rediohead, Shopenhauer, Nietzsche (de bem que esse é o mestre da alegria do grande e trágico Sim, sim, mas não faltaram não, estão incritos de qualquer forma...