Muitos são os relatos de brilhantes homens que se dedicaram a sua arte durante toda a vida e não receberam o reconhecimento material quando de sua passagem por este pequeno planeta escondido dos deuses. Trabalharam incessantemente e sua obra não pertencia aos homens do seu tempo, pertencia ao futuro ou ao passado. Cada vez mais acredito nas palavras do velho filósofo iluminista alemão, Christian Wolff, que dizia que a essência do ser humano é a busca pelo prazer e, consequentemente, a felicidade. Toda evolução tecnológica que facilita nossos dias, fazendo com que tenhamos mais tempo para gastar nosso tempo, é para que diminuamos nosso trabalho e dessa forma sentirmo-nos felizes. Entretanto, nos momentos de tristeza é que somos capazes de refletir, conservar hábitos, planejar. Muitos foram os homens que na contramão da essência acreditada por Wolff, passaram a maior parte do tempo a contemplar o sofrimento, a matutar sua dor. E desse compêndio, verdadeiras jóias foram lapidadas em quartos mal iluminados, em ambientes insalubres e com o fruir de lágrimas de incúria.
Esses homens morreram sem que suas obras fossem reconhecidas pelos seus pares, assim Franz Kafka chegou a pedir ao seu melhor amigo, no seu leito de morte, que queimasse toda a sua obra porque não teria serventia para a humanidade. Dostoiévski morreu à míngua, sendo levemente reconhecido pelo Estado nos últimos meses de vida, entratanto encontrando uma atrasada gratidão do público que culminou na multidão que acompanhou seu enterro. Sem contar nos homens que foram condenados pelo Tribunal do Santo Oficio e outros julgamentos do tipo. Entre tantos artistas de enorme talento que deixei de citar, gostaria de recair o olhar sobre o grande músico vienense, Franz Schubert. Durante o período que cá escrevo, estou ouvindo seu concerto para violino e piano. Vou deixar o link, no final, pra quem quiser baixar essa belíssima obra.
Schubert era a principal voz do coral da Escola dos Jesuítas, tendo uma educação musical bastante rigorosa. Ao se tornar adulto não conseguiu chamar a atenção da população vienense, de maneira que para se sustentar vivia da ajuda de amigos, entre eles Franz Liszt e Robert Schumann, que também não eram ricos. Aliás, quando ouvimos a música desses grandes compositores clássicos ficamos a imaginar que eles viviam em castelos e que a beleza de suas músicas vem da inspiração luxuosa em que vivem. Engano nosso. Um dos poucos que puderam gozar dessa imagem que fazemos foi o judeu (Por quê será?) Félix Mendelssohn que era considerado o melhor músico de seu tempo, além de Haendel que no fim da vida gozou de enorme prestígio na Inglaterra. Porém, muitos desses músicos viviam em deplorável situação de pobreza. Entre os que mais sofreram podemos destacar Schubert. Um causo tão triste pode servir de piada para nós, amantes do humor negro (sem racismo). Schubert era tremendamente apaixonado pela jovem Theresa Grob, moça encantadora. Schubert não era um homem feio, entretanto sua timidez o tornava obscuro. Schubert chegou a escrever mais de 200 músicas em homenagem à Theresa, que ao final trocou o amor do nosso triste personagem real, pelos braços de um mestre-padeiro. Coitado de Schubert. Sua música é carregada de profunda tristeza, quase todas. Se algum dos meus leitores gostam de tocar violino ou piano, saberão o valor que a obra de Schubert representa. Entre suas principais obras, A Sinfonia Incompleta é a que merece maior destaque. Morreu muito moço, com 31 anos, em virtude de uma doença sexualmente transmitida que arranjou num dos cabarés mais baratos de Vienna. O homem se foi tristemente. Deixar-vos-ei com uma passagem de Jesus, que o mestre Fiódor adorava:
"Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto." (Evangelho de João; Capítulo 12; 24).
link para baixar o conerto para violino e piano:
http://rapidshare.com/files/135551418/Schubert.ViolinPpianoHoelscher.part1.rar
http://rapidshare.com/files/135551415/Schubert.ViolinPpianoHoelscher.part2.rar
Copiem e colem no navegador. Beijo para todos vocês.
Um comentário:
caralho Dôdo, foi demasiado... isso sem falar de Nietzsche, Wittgenstein, até mesmo do próprio Bach, que também teve uma vida muito mais modesta que seu nome. Lindo véi.
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