Findou o filme, 500 Days of Summer, noutros tempos estaria com a cabeça enterrada no sofá. Mas, desta vez não. Com uma covarde melancolia associou o filme ao seu passado recente. Poderia contar seu drama amoroso com outro título, pensou por um instante, 180 Dias de L. Abriu a janela, uma brisa gostosa soprava. Quase meia-noite. O silêncio era tamanho que podia ouvir os carros passando pela rodovia interestadual. Caminhoneiros cruzavam aquelas estradas, pensava. Uma vida solitária na maior parte do tempo. A noite como companheira, o orvalho no teto de ferro, o canavial ao redor. Em seu romantismo, a vida de caminhoneiro não lhe parecia de todo ruim. A rara brisa soprava na janela. Desacostumado às carícias climáticas, fechou-a, após constatar o sepulcral silêncio vindo do lado de fora. Todos viajaram. A cidade estava deserta. Imaginou que naquelas condições, um passeio noturno o faria bem.
A lua estava minguando, mas ainda estava grande, prateada. Era a lua que ele mais gostava. Desde a adolescência escutava histórias sobre as paixões causadas pela lua cheia. E quantas vezes não saiu de casa na esperança de encontrar algo especial na noite de lua cheia e não acontecia nada. Por isso, a lua que minguava lhe interessava mais, era despretensiosa. Ela iluminava a frente do carro enquanto dirigia. No rádio, ele repetia inúmeras vezes a música “There’s a light that never goes out” dos Smiths. A mesma que a moça do filme cantarolava. Há algum tempo ele não ouvia Smiths! O filme, a lua minguando, a rua vazia. O sinal de trânsito fechado. Olhava as calçadas sem ninguém. A última vez que gostou de alguém foi de uma moça estrangeira. Ela se fora há um mês. Olhava aquelas ruas vazias. Achou ridículo viver ali. O que aquele lugar significava finalmente? Ela passou sete meses ali, era o suficiente. Mas ele, já ia completar trinta anos.
Não, tenha paciência por favor! Isso é culpa dessa dose de melancolia que derramaram, em excesso, no teu sangue. Isso passa. Comprou uma cerveja no posto. A polícia não estaria na rua naquele dia para vigiar os motoristas que bebem. Ninguém estava na rua. Desejou boa noite ao homem que trabalhava no caixa. O homem respondeu pelo ofício. Uma garoa caía. Dirigia sozinho. O refrão da música dizia: “And if a double-decker bus crashes into us. To die by your side is such a heavenly way to die.” Sorriu ao imaginar que se realmente colidisse com um ônibus, seria a solidão sua prazerosa parceira na viagem pro outro mundo.
Um comentário:
Lindo quando algo não tão bonito consegue trazer inspiração para palavras tão belas.
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